Um estudo recente sugere que crianças com obesidade no momento do diagnóstico de câncer podem ter uma menor sobrevida após o tratamento. A pesquisa, publicada no periódico Câncer, analisou dados de quase 12 mil pacientes entre 2 e 18 anos no Canadá, abrangendo um período de cinco anos após o diagnóstico, e encontrou uma associação entre obesidade e um risco aumentado de recidiva (55%) e morte (75%).

Essa relação foi mais notável em tumores do sistema nervoso central e leucemia linfoblástica aguda, que são os tipos mais comuns de câncer infantil. Uma possível explicação para esses achados reside no impacto da obesidade nas condições clínicas dos pacientes durante o tratamento. Segundo o oncopediatra Vicente Odone, do Hospital Israelita Albert Einstein, a obesidade “pode ter prejudicado a possibilidade de oferecer o tratamento mais adequado, com toxicidade suportável”.

No entanto, o especialista ressalta a necessidade de mais investigações para compreender completamente essa interação. “É um aspecto a ser considerado, mas precisamos de mais estudos, de maneira mais aprofundada, para avaliar outros fatores que possam estar associados, como os genéticos, e entendermos como isso pode interferir no processo”, afirma Odone.

Além disso, o oncopediatra enfatiza a importância de prevenir a obesidade após o tratamento oncológico. “Além de alterações metabólicas induzidas cronicamente pelo tratamento, a doença pode levar a mudanças nos hábitos alimentares difíceis de serem revertidas”, explica. Ele também observa que “muitas vezes, com a preocupação de que o paciente fique fraco, os pais acabam mudando hábitos adequados”.

A relação entre peso e câncer infantil não se limita ao tratamento. Diversos estudos indicam que o peso pode influenciar o risco de desenvolver a doença. Por exemplo, crianças com baixo peso ao nascer têm maior probabilidade de desenvolver tumores no fígado. “Sabe-se que há uma interferência do peso no surgimento de câncer pediátrico e até na sua evolução, mas ainda é difícil estabelecer qual o valor dessa associação”, pondera Vicente Odone.

Apesar dessas observações, o oncopediatra tranquiliza, afirmando que a maioria dos casos de câncer infantil atualmente apresenta altas chances de cura. Ele explica que a abordagem terapêutica busca manter a rotina e os hábitos das crianças o mais próximo do normal possível. “[Isso significa] Tirá-las o menos possível do seu dia a dia, incluindo seus hábitos alimentares, para que depois possam se inserir plenamente na sociedade de maneira mais tranquila”, orienta.

 

Fonte: Ana Luisa Sales-Itatiaia

 

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