Os três ganhadores do prêmio Nobel de Economia deste ano, Abhijit Banarjee, Esther Duflo e Michael Kremer, são conhecidos por fazer experimentos de campo.

Os pesquisadores são ligados a um laboratório que estuda os efeitos da pobreza extrema e busca entender quais as melhores formas de evita-los, principalmente os que são relacionados a educação e saúde.

O trio foi premiado “por sua abordagem experimental para aliviar a pobreza global”, afirmou o júri. “As descobertas das pesquisas dos premiados –e as dos pesquisadores que seguem os passos deles– melhoraram drasticamente nossa capacidade de combater a pobreza na prática”, acrescentou em comunicado a Academia Real de Ciências da Suécia.

Segundo o júri, os estudos e novas abordagens desenvolvidas pelo trio permitiram, por exemplo, ações mais eficazes para melhorar a saúde infantil e o desempenho escolar.

Banerjee e Duflo são casados e dão aulas no Massachusetts Institute of Technology (MIT) e tornaram-se cidadãos americanos. Michael Kremer Kremer é professor na Universidade de Harvard.

Um laboratório farmacêutico, por exemplo, faz uma série de experimentos em pacientes com grupos de controle para saber se um novo remédio é estatisticamente eficiente. Os experimentos feitos pelos ganhadores do Nobel de Economia de 2019 têm semelhanças com esse processo.

Com parcerias com ONGs e governos locais, eles implementam mudanças econômicas só para uma parte de uma população. A escolha de quem será submetido a um experimento e quem será o grupo controle é aleatória.

Em outras ocasiões, eles usaram dados de um programa de
desenvolvimento e comparam o que aconteceu – é o caso do microcrédito.

Conheça abaixo alguns dos experimentos que Banarjee, Duflo e Kremer executaram e alguns dos conceitos de desenvolvimento econômico por trás deles.

Livros didáticos versus comida no Quênia

Em áreas pobres, as escolas têm múltiplos problemas. Por exemplo, há falta de livros didáticos, e uma parte das crianças frequenta as aulas sem comer. Qual seria a forma de melhorar o desempenho acadêmico: dar comida ou livro didático?

Durante os anos 1990, Kremer e os seus colegas fizeram um experimento em regiões rurais do Quênia.

As escolas tiveram acesso a recursos, mas em momentos diferentes e de naturezas diferentes: uma parte recebeu livros, e a outra, refeições. Os livros didáticos só tiveram efeitos para os melhores alunos. As refeições não alteraram o aprendizado.

Professores auxiliares só para os piores alunos

Mais tarde, outros experimentos de campo mostraram que a ajuda direcionada aos alunos mais fracos é uma medida eficaz para lidar com a falta recursos para educação nos países de baixa renda e adaptar o ensino às necessidades reais dos alunos.

Os três economistas dividiram escolas da Índia em dois grupos: uma parte delas recebeu auxiliares de professores para atender crianças que tinham necessidades específicas de ensino, e a outra, não.

O experimento mostrou que é no auxílio aos estudantes mais fracos que há os melhores efeitos para a curva de aprendizado nos prazos curto e médio.

Vacinação com ou sem brinde

Se um grupo de pessoas tiver uma cobertura de vacina menor, terá uma desvantagem econômica, porque vai trabalhar menos, terá mais problemas de saúde etc. Só que, na Índia, os funcionários de clínicas de vacinação faltam muito ao trabalho.

Os economistas fizeram uma experiência com um centro móvel de profissionais de saúde, que ia até as vilas. A cobertura da vacinação aumentou de 6% para 18%. Em algumas áreas, eles davam um saco de lentilhas para as famílias que vacinassem seus filhos. A taxa entre esse grupo subiu para 39%.

O gasto para aplicar cada vacina caiu pela metade nesse cenário –a clínica tem altos custos fixos (ou seja, são os mesmos para a aplicação de uma única vacina ou milhares), e, mesmo com a distribuição de comida, o desembolso por aplicação caiu.

Remédio barato versus remédio gratuito
Os pesquisadores mostraram também que as pessoas mais pobres são extremamente sensíveis a preços e gratuidade nos cuidados de saúde preventivos.

Um estudo conduzido por Kremer na Índia mostrou que se uma pílula para combater vermes for gratuita, 75% dos pais vão usá-la em seus filhos. Se ela custar menos de US$ 1 (ou seja, ainda com preço subsidiado), essa porcentagem cai para 18%.

Fertilizantes na lavoura e a dificuldade de tomar decisões

Na África subsaariana, pequenos fazendeiros não adotam inovações tecnológicas simples que teriam o potencial de os beneficiar. Por exemplo, se eles adotassem fertilizantes químicos, teriam safras maiores.

Nesse caso, a experiência dos economistas foi comparar dois grupos: um que recebeu subsídios temporários para comprar fertilizantes, e outro que os tinha de forma permanente.

Quem mais usou o produto químico foram aqueles que tinham o benefício somente durante um período.

Esse experimento mostra, na prática, o efeito de um conceito de racionalidade limitada. Os problemas mais urgentes de um pequeno produtor rural são aqueles nos quais ele vai se debruçar mais. Pessoas em extrema pobreza priorizam as dificuldades que não podem ser adiadas, e isso deve ser levado em conta ao formular políticas públicas.

Microcrédito na Índia

Oferecer empréstimos de valores baixos a pequenos empresários, que têm dificuldade para acessar crédito, é uma política de desenvolvimento econômico difundida.

Os ganhadores do prêmio deste ano fizeram experiências para tentar chegar a uma conclusão sobre a eficácia desse programa que era executado na cidade de Hyderabad, na Índia.

Resultado: como política de desenvolvimento, um programa de microcrédito não tem efeitos, nem em 18 meses e nem em 36.
A política tem pequenos impactos em investimentos locais, de acordo com os experimentos do trio.

Eles estudaram o tema na Bósnia-Herzegovina, Etiópia, Marrocos, México e Mongólia. As conclusões foram semelhantes.

Dividir a solução do problema

O que os experimentos mostram, de acordo com o comitê, é que o problema da pobreza pode ser resolvidos sendo dividido em perguntas menores e mais precisas, nos níveis individual ou de grupo.

“Em apenas 20 anos, essa abordagem reformulou completamente a pesquisa no campo conhecido como economia do desenvolvimento”, afirmou, em nota, o comitê do Nobel.

 

Fonte: G1 ||
COMPATILHAR: