Cultivado há mais de quatro mil anos, o açafrão é considerado o tempero mais caro do mundo e tem uma história que remonta à Idade do Bronze. Acredita-se que a planta Crocus sativus, de onde se extrai o verdadeiro açafrão, tenha sido domesticada na ilha de Creta, na Grécia, e posteriormente adotada por egípcios e persas.
Origem e usos históricos
Produzido a partir dos estigmas secos da flor Crocus sativus, o açafrão era utilizado na Grécia antiga para tingir cabelos, enquanto na Pérsia servia como matéria-prima para tapetes e véus. No Egito, ganhou fama como afrodisíaco — segundo relatos históricos, Cleópatra adicionava açafrão aos banhos com leite de égua para intensificar suas noites de amor. Já Alexandre, o Grande, acreditava nas propriedades curativas da planta e a usava em seus banhos para tratar feridas de batalha.
Na culinária e na confusão com a cúrcuma
Hoje, o açafrão é ingrediente essencial em pratos tradicionais como a paella espanhola, o bouillabaisse francês, os tahines marroquinos e a galinhada goiana. No entanto, no Brasil, o tempero vendido como “açafrão” por menos de R$ 10 é, na verdade, cúrcuma — uma planta diferente, da espécie Curcuma longa, cuja raiz é utilizada em pó.
A diferença entre os dois é visível: enquanto a cúrcuma tem coloração amarela intensa e é comercializada em pó, o açafrão verdadeiro aparece em filamentos avermelhados, que são os estigmas da flor. Cada flor possui apenas três estigmas, colhidos manualmente, o que torna o processo de produção extremamente delicado e artesanal. Por que o açafrão é tão caro?
A Crocus sativus floresce apenas entre outubro e novembro, e a colheita precisa ocorrer antes do nascer do sol para evitar danos às flores. Após a coleta, os estigmas são desidratados em repouso, em ambiente escuro, e depois embalados a vácuo. São necessárias cerca de 75 mil flores para produzir meio quilo da especiaria. O preço de um quilo pode chegar a R$ 70 mil, dependendo da origem e da qualidade — valor que rivaliza com metais preciosos, como o ouro, que custa cerca de R$ 630 mil por quilo.
Produção global e presença no Brasil
A Espanha lidera a produção e o consumo mundial de açafrão, seguida por países como Itália, Irã, Grécia, Turquia e Índia. No Brasil, o verdadeiro açafrão é raro, mas pode ser encontrado em lojas especializadas em temperos, geralmente com preços elevados e em pequenas quantidades.
A distinção entre cúrcuma e açafrão segue sendo um desafio para consumidores brasileiros, mas conhecer a origem e o processo de produção da especiaria ajuda a valorizar sua história e entender por que ela é considerada um dos ingredientes mais preciosos da gastronomia mundial.
Com informações da Revista Galileu