O consumo de alimentos ultraprocessados está diretamente relacionado a 68 mortes diárias no Brasil, segundo dados da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Ricos em sódio, açúcar, gorduras e aditivos químicos, esses produtos têm forte associação com doenças crônicas graves, como obesidade, diabetes e hipertensão, e vêm sendo alvo de campanhas por maior regulamentação da publicidade, especialmente para o público infantil.
Apesar dos riscos à saúde, a indústria de ultraprocessados continua investindo pesadamente em publicidade, muitas vezes voltada para crianças e adolescentes. A coordenadora do Programa de Alimentação Saudável e Sustentável do Idec (Instituto de Defesa do Consumidor), Laís Amaral, defende a regulamentação da propaganda desses produtos nos moldes do que já ocorre com o tabaco e o álcool. “Isso é essencial para proteger a saúde da população, especialmente do público infantil”, afirma.
Com esse objetivo, o Idec uniu-se à ACT Promoção da Saúde, ao Instituto Desiderata e à Fian Brasil para lançar a campanha “Publicidade que Adoece”, que busca mobilizar a sociedade e pressionar por regras mais rígidas na publicidade de alimentos ultraprocessados. A campanha também chama atenção para o impacto do marketing na formação de hábitos alimentares desde a infância.
Atualmente, 70% das campanhas de ultraprocessados no ambiente digital são direcionadas a menores de 18 anos, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). Um estudo realizado pelo Idec em parceria com o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) revelou que 83% dos pais ou responsáveis afirmam que seus filhos consomem ultraprocessados todos os dias. Segundo Amaral, isso acontece porque a indústria investe grandes somas em publicidade para criar laços com os consumidores desde cedo. “A indústria vende a ideia de saúde, sustentabilidade, bem-estar, pertencimento e glamour a partir da publicidade, o que atrai consumidores desde muito cedo”, destaca.
Esses fatores ajudam a explicar outro dado alarmante: uma em cada três pessoas com até 19 anos está acima do peso saudável, conforme o Panorama da Obesidade Infantil, desenvolvido pelo Instituto Desiderata e pela Umane.
Mesmo com proibições à publicidade enganosa e abusiva no Código de Defesa do Consumidor (CDC) e em normas como a Resolução nº 163 do Conanda (Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente) e a NBCAL (Norma Brasileira de Comercialização de Alimentos para Lactentes e Crianças de Primeira Infância), ainda não há no Brasil uma regulamentação específica para a propaganda de produtos alimentícios prejudiciais à saúde, como os ultraprocessados.
Com alto teor de açúcares, gorduras, sódio e aditivos cosméticos, os ultraprocessados substituem a alimentação natural e são feitos para serem consumidos em excesso e sem atenção. Exemplos comuns incluem biscoitos integrais, barras de cereais, granolas com açúcar e iogurtes adoçados. Para o Idec, é fundamental conscientizar a população sobre os riscos desses produtos e exigir regras claras que limitem sua publicidade. A campanha “Publicidade que Adoece” busca colocar esse debate no centro da agenda pública, permitindo que consumidores façam escolhas mais informadas e protegendo, especialmente, as crianças dos efeitos nocivos da propaganda direcionada.
Fonte: Metrópoles