Na mira dos Projetos de Lei sobre energia solar, está a concorrência entre as grandes distribuidoras e outras empresas no setor. O PL 671/2024 busca impedir que empresas do mesmo grupo econômico de distribuidoras de energia atuem no mercado de geração distribuída, que inclui a geração em residências. É o caso, por exemplo, da Cemig SIM.

O projeto considera (a atuação das distribuidoras) uma concorrência desleal, uma vez que elas têm acesso às melhores tarifas, às informações sobre onde há inversão de fluxo de potência e são elas que dizem se pode conectar ou não”, apresenta o presidente da Associação Brasileira de Geração Distribuída (ABGD), Carlos Evangelista.
Por outro lado, a Abradee argumenta que não existe concentração de mercado no setor e que as empresas relacionadas às grandes distribuidoras ocupam uma parcela minoritária do mercado.

O que está sendo proposto pelo 671 é criar restrição de participação de uma parcela de investidores importantes, investidores que têm mantido o desenvolvimento do setor elétrico brasileiro, investindo em segmentos de geração, transmissão e distribuição. O que está se propondo no processo é fazer uma restrição à participação, o que fere, sem dúvida nenhuma, a Constituição Federal, que estabelece a livre iniciativa e a livre concorrência”, diz o presidente executivo da entidade, Marcos Madureira. O PL 671 tramita na Câmara, mas foi retirado de pauta, por ora.

Minas têm a potência de uma Belo Monte
A potência fiscalizada de energia solar em Minas Gerais, ou seja, a capacidade de geração dos sistemas já homologada pelo governo, atinge 11,57 GW, segundo dados da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais (Sede-MG) divulgados na última semana. O volume é superior ao da usina hidrelétrica de Belo Monte, que alcança 11,2 GW.

O Estado é líder nacional na geração de energia solar e, na categoria da geração distribuída, só perde para São Paulo, com que concorre de perto. A expectativa do governo de Minas Gerais é que, até o final de 2025, a potência chegue a 14 GW, assim aproximando-se de Itaipu.

Não há expectativa de que a energia solar ultrapasse as hidrelétricas na matriz energética de Minas Gerais ou do país, mas ela tem margem para crescer. “As hidrelétricas trazem estabilidade ao sistema, mas o futuro é uma matriz de várias fontes, as hidrelétricas e a solar como as principais. As hidrelétricas pelos investimentos de antigamente, e a solar mantendo a segunda posição e crescendo”, projeta o subsecretário de Atração de Investimentos e Cadeias Produtivas de Minas Gerais, Frederico Amaral.

Energia eólica tem travas mais complexas
O vento do Brasil é inigualável, e isso é provado em números. A relação entre a energia gerada por uma usina eólica no país e a capacidade instalada nela gira em torno de 40% e chega a 70% em parte do Nordeste. No mundo, esse índice é de 25%. Mas o alto potencial brasileiro não é plenamente aproveitado, enfatiza o diretor técnico regulatório da Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica), Francisco Carlos da Silva.

O setor questiona o curtailment – redução da geração de energia ordenada pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) em casos nos quais a infraestrutura não suporta o volume de produção. As maiores empresas do setor no Nordeste afirmam ter acumulado prejuízo de pelo menos R$ 1,4 bilhão em 2024.

“Temos empreendimento com cortes (de geração) na ordem de 70%. Isso quebra qualquer projeto e expectativa. Precisamos de uma solução e que os geradores passem a ser ressarcidos. Em dezembro, tivemos a recuperação de uma liminar que nos dá direito ao ressarcimento, mas uma discussão judicial ainda é realizada e é relevante para os próximos anos. Isso será importante para os geradores investirem nos projetos. Eles terão que prever 50% de perna no plano de negócios?”, questiona o diretor técnico regulatório da ABEEólica. Em dezembro, a Justiça concedeu liminar favorável aos geradores de energia eólica e solar que obriga a Aneel a ressarci-los pelos cortes.

Paralelamente, o governo federal acaba de sancionar a regulamentação da energia eólica offshore – em alto-mar. “Em 2030 ou um pouco depois, teremos grandes parques comerciais offshore”, prevê o representante da ABEEólica.

 

 

Fonte: Por Gabriel Rodrigues/O Tempo

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