Nem as projeções mais ousadas deram conta de que o dólar subiria tanto em 2015. Nesta terça-feira (22), a cotação da moeda passou de R$ 4 e bateu recorde histórico. Mas enquanto uns lamentam, outros comemoram. O real mais fraco beneficia a indústria que exporta, mas também pressiona a inflação com o encarecimento dos produtos importados, reduzindo o poder de compra do brasileiro.
Diante do rebaixamento da nota de crédito do Brasil e das dificuldades do governo em cumprir o ajuste fiscal, ninguém aposta em uma baixa da moeda.
Entre perdedores e vencedores, a alta do dólar mais ajuda do que prejudica a economia, na opinião do economista Gesner Oliveira, da consultoria Go Associados.
“O efeito positivo do estímulo às exportações parece dominante num quadro recessivo, porque é um dos componentes da demanda que pode melhorar o consumo e porque seria desejável melhorar a balança comercial”, diz.
Veja abaixo quais os maiores beneficiados e prejudicados com a valorização do dólar:
Quem ganha
Empresas exportadoras
A indústria que gasta em reais para produzir e vende em dólares é a que mais se beneficia com o avanço da moeda, explica o economista Jason Vieira. A lógica é simples: os preços dos produtos ficam mais competitivos lá fora e a margem de lucro sobe. “Os dois exportadores mais favorecidos no momento são os setores de carne e papel e celulose”, comenta o analista. As vendas das commodities brasileiras também melhoram, mesmo com a recente queda no preço de matérias-primas como o petróleo e o minério de ferro, que atingiu o menor valor em uma década.
Empresas que produzem e vendem no Brasil
A indústria nacional – especialmente a que não precisa importar matérias-primas –, se fortalece porque fica mais competitiva frente aos produtos estrangeiros, que se tornam mais caros. Ela se beneficia com a queda nas vendas desses produtos e pode praticar preços mais altos no mercado interno. A varejista de moda Lojas Renner teve um lucro 30% maior no segundo trimestre, atribuído em parte ao câmbio.
Turismo nacional
Com os preços de passagens e a fatura do cartão de crédito em dólar, ficou mais caro viajar para o exterior. O salário do brasileiro, que continua o mesmo em reais, cabe mais nos destinos nacionais. O turista tem trocado a viagem que faria ao Caribe por uma praia no Nordeste. Assim, o dinheiro circula mais em hotéis, restaurantes, agências de turismo e empresas aéreas que operam voos domésticos. A vinda de turistas estrangeiros, atraídos pelo real mais baixo, também ajuda o turismo interno.
Poder de compra do brasileiro
O avanço da moeda norte-americana é mais um ingrediente que eleva a inflação, que está bem acima do teto da meta (6,5%) em 12 meses. “A matriz de custos da indústria brasileira é toda dolarizada, e isso ajuda a pressionar a inflação com a alta da moeda”, conclui Vieira. “Num cenário de custo mais alto, não tem como não repassar o preço para o consumidor”, acrescenta.
Quem perde
Indústria que importa peças e matéria-prima
Mesmo que a indústria produza para vender no mercado interno, muitos setores dependem de itens que são comprados na moeda norte-americana, o que encarece o custo de produção Como efeito, isso obriga o produtor a elevar os preços para não ter perdas, o que também ajuda a pressionar a inflação.
Empresas com dívidas em dólar
Mesmo que muitas companhias sejam beneficiadas com a valorização da moeda norte-americana, quando maior for seu endividamento em moeda estrangeira, mais difícil será pagar sua dívida. “As variações do dólar têm impacto patrimonial no balanço das empresas endividadas em dólar”, diz Oliveira, da Go Associados.
Turistas com viagem ao exterior
Os preços das passagens aéreas, dos hotéis e das compras do brasileiro lá fora ficam mais caros. A fatura do cartão de crédito ou pré-pago também aumenta, além da cobrança do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) de 6,38% e incerteza da cotação a ser paga. Tanto que osgastos do brasileiro no exterior caíram 20,1% no primeiro semestre, frente ao mesmo período de 2014.
Produtos chineses
Para Jason Vieira, mesmo que a alta do dólar impacte nos preços dos produtos chineses, a relação custo/benefício ainda é alta frente aos produtos nacionais tributados. “A valorização da moeda não foi suficiente para afetar as vendas dos produtos chineses, mais impactadas pelo quadro recessivo da economia”, analisa Vieira.
Importadores
As empresas que importam produtos vão pagar mais por eles e, por consequência, esse custo precisa ser repassado para o consumidor. No entanto, com o real fraco os importados se tornam menos competitivos frente aos produtos nacionais. Assim, a margem de lucro dos importadores tende a cair quanto maior for a cotação da moeda norte-americana.
G1