Por Ricardo Corrêa | Editor-Chefe Brasília

O governador mineiro Romeu Zema (Novo) foi o responsável por criar o seu principal problema eleitoral. Ao prometer o que não poderia cumprir, recuar de um acordo já estabelecido e, depois, contar com a estratégia de apenas passar a bola para a Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), o chefe do Executivo deu gás às manifestações de servidores da segurança e, agora, tem um enorme abacaxi para descascar. Como ele fará isso é o que querem saber os outros governadores de Estado, que podem ver na conclusão do caso de Minas um pouco do que podem enfrentar mais adiante.

No caso mineiro, a inabilidade política do governador ficou expressa já no início dos debates acerca da recomposição salarial, ainda em 2019. Na ocasião, pressionado a resolver uma insatisfação que ganhava corpo, Romeu Zema, mesmo diante das agruras da situação financeira do Estado, topou fazer um acordo. Prometeu, porém, o que sabia que não poderia cumprir. Depois da tramitação na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), o governador acabou rompendo o que tinha acordado com os servidores da segurança. Garantiu apenas a primeira parcela, de 13%, em 2020, mas derrubou as outras duas, de 12% em 2021 e 12% em 2022. Evidentemente que isso geraria um problema mais adiante.

O governo contava que, empurrando a bola para a a ALMG, conseguiria minimizar a insatisfação. Na versão do governo, só seria possível cumprir o que foi prometido aos servidores se os deputados aprovassem o regime de recuperação fiscal. Zema, porém, sabia que o RRF não passaria na Assembleia. Que haveria enormes resistências. E que os próprios servidores, em razão das perdas que terão com a impossibilidade de reajustes nos próximos anos, não apoiariam a ideia. Um erro grosseiro.

Fato é que hoje vemos, impressionados, o tamanho da manifestação realizada por esses servidores, que incluem policiais militares, civis e penais, além de bombeiros. Só depois de ver aquele enorme contingente na rua o governo parece ter acordado para o tamanho do problema. Sobretudo em ano eleitoral.

É um fato que a inflação em alta no Brasil nos últimos anos corroeu ainda mais o salário desses servidores. A do ano passado, sozinha, engoliu uma parcela que havia sido acordada em 2019. Por isso, a insatisfação é enorme. Assim como serão as consequências para a sociedade se o governo de Minas não desatar esse nó. O restante dos governadores do Brasil, até aqui, aprenderam o que não se deve fazer. Agora, querem ver qual a solução do Palácio Tiradentes para aplicar caso a situação saia do controle também em outras unidades federativas.

Esclarecimento

Aproveito esse espaço também para tratar de uma polêmica surgida nas redes após deputados federais e aliados do governo publicarem que eu teria chamado os membros das categorias da segurança de bandidos. Não foi o que ocorreu. Apenas tratei como tal um pequeno grupo que ameaçou agredir, impediu o direito de ir e vir e o exercício do trabalho jornalístico em um episódio isolado nas manifestações de segunda-feira. Disse, inclusive que, neste caso, “por acaso, eram policiais”. A distorção que fizeram para generalizar tem, claro, objetivo de engajar. Afinal, outubro está aí e esse comportamento dá voto. Mas, sendo bem claro, não houve ali nada que não fosse uma intransigente defesa da liberdade de imprensa. Como em todas as outras ocasiões e, inclusive, utilizando, sempre, a mesma legenda. 

Fonte: O Tempo

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