Negacionistas já duvidaram que a humanidade de fato chegou à Lua, que as vacinas que levaram ao fim da pandemia funcionam e foram tão longe a ponto de dizer que a Terra é plana. Agora, vídeos virais no TikTok inauguram uma nova onda de negacionismo com afirmações de que o Titanic nunca afundou.
Alguns fatos se perderam na história desde o naufrágio do navio, em 15 de abril de 1912. O número exato de mortos, por exemplo, varia levemente dependendo da fonte — mas elas concordam que ele gira em torno de 1.500 vítimas. Algo com o qual todas as fontes oficiais concordam e sobre o que não resta dúvida é que o navio afundou no Oceano Atlântico, no caminho entre o Reino Unido e Nova York, após colidir com um iceberg. Inclusive, o submarino que acabou de desaparecer no mar buscava justamente alcançar os destroços do navio, o que várias expedições já fizeram desde os anos 80, quando eles foram descobertos.
Para conspiracionistas do TikTok, porém, não é bem assim. O jornal “The New York Times” produziu uma reportagem, parte de uma série de matérias sobre desinformação na internet, em que lista exemplos de vídeos em inglês no TikTok que espalham mentiras sobre o Titanic na plataforma chinesa, alguns deles com milhões de visualizações.
Há conteúdos que afirmam que o Titanic nunca afundou e que o navio que naufragou era, na verdade, o Olympic, dos mesmos donos, que estariam tentando fraudar o seguro. Outros dizem que o magnata norte-americano J. P. Morgan mandou afundar o navio para matar três oponentes do mundo das finanças.
Essas mentiras são só mais algumas entre várias que circulam nas redes sociais, não somente no TikTok, e podem parecer inofensivas comparadas àquelas que dominaram as eleições nos EUA, no Brasil e em outras democracias, por exemplo. Mas uma fonte ouvida pelo “The New York Times”, a pesquisadora sênior de Mídias Sociais e Política da Universidade de Nova York Megan Brown, pontua que qualquer desinformação é perigosa.
Ela lembra que, pela lógica das plataformas, quanto mais tempo uma pessoa passa assistindo a algum vídeo, acredite nele ou não, maior a chance de ele ser recomendado a outras pessoas pela rede social, que entende que aquele conteúdo gera engajamento. O problema, diz Brown, é que o excesso de exposição a mentiras podem erodir, aos poucos, a noção que as pessoas têm da realidade. “Pessoas que acreditam em pelo menos uma teoria da conspiração tendem a acreditar em pelo menos uma mais”, diz.
E a desconfiança está chegando às gerações mais jovens. Um levantamento da Universidade de New Hampshire, nos EUA, realizado em 2022, descobriu que metade dos entrevistados nascidos depois de 1997 afirma ter certeza ou pelo menos uma dúvida de que os astronautas pousaram na Lua.
O “The New York Times” também ouviu um porta-voz do TikTok, Ben Rathe. “Nossa prioridade é proteger nossa comunidade, por isso removemos desinformação que cause danos significativos e trabalhamos com checagem de fatos independente para apurar a precisão do conteúdo em nossa plataforma”, declarou. O TikTok tem uma política de prevenir que alguns vídeos conspiracionistas apareçam no feed de vídeos, mas alguns não são bloqueados completamente.
Fonte: O Tempo