Líder das pesquisas de intenção de votos para a disputa do Governo de Minas Gerais em 2026, o senador Cleitinho Azevedo (Republicanos-MG) cogitou, em discurso na tribuna do Senado, deixar a política para sempre.

Senhor presidente (do Senado), eu vou falar aqui de uma forma bem sincera e bem transparente, é o que o meu coração está pedindo para falar há alguns dias, há alguns meses já. Tem muita gente, lá no Estado de Minas Gerais, até com pesquisas, me colocando como candidato a Governador, liderando pesquisas em Minas Gerais”, começou.

Eu vou falar uma coisa aqui do fundo do coração para toda a população mineira e do Brasil: eu vou estudar bem isso neste ano, conversar bem, fechar a porta do meu quarto, orar muito, pedir a Deus, porque a minha pretensão mesmo, se continuar da forma que está a política, é não disputar eleição nunca mais na minha vida (…)”, prosseguiu.

(…) é manter meu mandato aqui que eu tenho, que vai mais seis anos, parar de disputar eleição e seguir a minha vida, porque, a cada dia, eu vejo que isso aqui me desanima mais, isso aqui me deixa extremamente ansioso, porque eu não levo desaforo para casa, e o que a gente mais leva é desaforo para casa”, concluiu nesse trecho do discurso.

Cleitinho fez a declaração no Plenário do Senado na última quinta-feira (8). Ele ainda rebateu críticas ao seu trabalho, sobre suposta falta de experiência. Reclamou da falta de andamento em seus projetos.

O senador não deixou claro a quem ele estaria rebatendo. Em janeiro deste ano, o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), afirmou, em entrevista a O TEMPO, que considera Cleitinho um senador atuante, mas ponderou sobre a importância da experiência administrativa para concorrer ao cargo de governador de Minas.

Eu vejo algumas pessoas que não entendem nada de política ficarem criticando a gente: ‘Você só faz barulho, não resolve nada’. Vem cá, frequenta isso aqui, Congresso Nacional. Eu tenho mais de 300 projetos aqui protocolados, e só projetos que beneficiam a população brasileira, tudo em favor do povo”, afirmou.

Aí eu estou aqui me matando, me doendo, fazendo de tudo para tentar melhorar a vida das pessoas, meus projetos não são aprovados. Quando chega em uma Comissão, os caras têm coragem de pedir adiamento deles para 30 dias, 60 dias. Então, como é que faz? Aí eu vou pular para vir para Executivo, para Governador, onde eu vou ter que negociar?”, questionou.

Meus valores não são negociáveis, meus amigos, e eu vou ter que negociar com gente que não está nem aí para o povo, gente que não está nem aí e só está preocupado em negociar para eles, para o bolso deles, porque eu vejo isso aqui, eu estou vendo isso aqui no Executivo, e olha que eu sou oposição”, disse.

Cleitinho fez o desabafo ao criticar a aprovação, pela Câmara dos Deputados, da urgência do projeto de lei complementar que aumenta o número de parlamentares de 513 para 531.

Senador diz que medida não tem respaldo da população

O senador mineiro afirmou que a medida não tem respaldo popular e pode influenciar mudanças nas assembleias legislativas e câmaras municipais. Cleitinho sugeriu que o Senado revise a proposta para reduzir o número de cadeiras no Congresso Nacional.

Perguntem se o povo quer que aumente o número de deputados. Pode abrir um precedente para aumentar o número de deputados estaduais e vereadores. Isso custa caro para a população brasileira. A gente aqui [o Senado] é a Casa revisora, espero que a gente possa fazer diferente. Vamos fazer emendas para diminuir. Eu acho que o povo vai ficar feliz demais da conta! A gente poderia fazer realmente uma reforma política”, afirmou.

Cleitinho também atacou as uniões de partidos por meio de fusões e federações. Afirmou que é outro assunto que não interessa a população. Só agrada aos interesse políticos, de acordo com o senador.

Eu escutei agora uns partidos, o PSDB, o Podemos, falando que vão fazer uma fusão, o próprio Republicanos com o MDB. Faço uma pergunta: o que o povo ganha com isso, fazer fusão? O que o povo vai ganhar com isso, gente? Nada. Quem ganha com isso? O que eles estão pensando de verdade mesmo? É ter mais deputados, ter mais cadeira, para ter mais representatividade, para poder lá depois negociar, botar a faca no pescoço do Executivo, para poder ter mais Fundo Eleitoral. O povo mesmo não ganha nada com isso”.

Em seguida ele voltou a falar da possibilidade de deixar a vida pública. “Eu, sinceramente, estou pensando seriamente – vou conversar com Deus, conversar com a minha família e conversar comigo mesmo – se compensa continuar na vida pública, se compensa, no ano que vem, um cara que se doa igual eu me doo aqui…”, disse.

No entanto, em seguida, falou em virtude dele próprio para ser candidato a governador de Minas.

Eu não faço nada de errado – nada de errado. Quem está ganhando, se um dia eu virar governador, não sou eu não. Quem está ganhando são os 853 municípios, porque eu não tenho coragem de fazer nada de errado. Eu não tenho coragem de negociar nada para mim, a não ser negociar para o povo”, ressaltou.

E quantos políticos será que têm coragem de pegar e subir aqui e falar isso, como eu estou fazendo? Sabe por que eu faço isso? Porque eu não devo nada. Eu não esqueço o dia em que eu vim a ser candidato a senador pelo meu Estado e fui conversar com alguns partidos para poderem me dar a vaga”, contou, sem dar nomes.

Teve um presidente de um partido lá do meu estado que virou para mim e falou: ‘Cleitinho, o que você quer?’. Eu falei assim: ‘Ô, eu quero a vaga’. Ele arregalou os olhos, ficou uns 30 segundos olhando para mim e falou assim: ‘Pode pedir’. Eu falei: ‘Não, eu quero a vaga’. ‘Você não vai querer mais nada?’. Eu disse: ‘Não, só quero a vaga’”, citou, novamente sem dar nome.

Cleitinho fala em votar com governo Lula quando o interesse é do país

Cleitinho ainda citou o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para falar do que, segundo ele, é coerência de um parlamentar que só quer defender os interesses da população.

Então, por mais que eu seja oposição do Lula – e serei até o fim do meu mandato aqui –, eu jamais vou querer o mal de um presidente da República, porque é ele que está dirigindo o navio. Se der tudo errado aqui, vai todo mundo afundar, menos os políticos”, disse o senador.

É só vocês lembrarem a época da Covid: mandou fechar tudo, todo mundo dentro de casa, muita gente sem dinheiro… E pergunte se algum dia – eu era deputado estadual – eu fiquei sem receber salário. Nunca! Então, quando o barco afunda, pior é só para o povo brasileiro; para a classe política nunca piora”, emendou.

Então, jamais vou querer o mal de um presidente da República. Eu não sou aliado dele, mas sou aliado do povo. Eu já falei: o que for para a população brasileira aqui, tudo que for para o povo aqui eu vou ajudar”, frisou Cleitinho.

Ele citou a proposta da isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil mensais como exemplo de que os parlamentares não priorizam os interesses da população.

Em vez de colocar isso como emergência, como urgência, para aquele que ganha até R$ 5 mil não pagar mais. A urgência lá na Câmara, esta semana, foi para aumentar o número de deputados. Para aumentar o número de deputados”, criticou.

Senhor Hugo Motta (presidente da Câmara), com todo o respeito a Vossa Excelência, saia à rua e peça a orientação de quem te colocou ali na cadeira. Apesar de que foram os deputados, mas quem te colocou no mandato foi a população brasileira, foi o seu estado. Pergunte a eles se eles querem que aumente o número de deputados. Pergunte”, disse.

Cleitinho afirmou que “a orientação poderia ser para diminuir, não para aumentar (o número de deputados)”.

 

 

Fonte: Renato Alves – O Tempo

 

 

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