Por trás das portas da Cidade do Vaticano ainda perduram muitos mistérios e segredos sobre os bastidores da Igreja Católica. Uma das histórias mais intrigantes diz respeito ao Papa João Paulo I, que foi encontrado morto na manhã do dia 29 de setembro de 1978, após apenas 33 dias desde a sua eleição.

Na época, surgiram diversas teorias da conspiração para tentar explicar o falecimento do religioso, indica o jornal O Globo. Algumas pessoas sugeriam que ele havia sido vítima de envenenamento, enquanto outros apostavam se tratar de um assassinato encomendado por seus opositores. Apesar disso, oficialmente, o Vaticano reconheceu o caso como resultante de um infarto agudo do miocárdio.

Mas o que se sabe sobre aquele fatídico dia?

Conhecido como “o Papa do sorriso” por seu bom humor, discurso provocador e humildade, o italiano Albino Luciani foi eleito no conclave de 26 de agosto de 1978. Ele não aparecia nas listas dos favoritos, mas derrotou com folga o ultraconservador Giuseppe Siri.

Surpreso com o resultado, dizem que Luciani tentou recusar o cargo, até ser convencido por colegas a aceitar o desafio. De acordo com o portal oficial do Vaticano, ele foi o primeiro a escolher o nome João Paulo, como forma de homenagear São João XXIII (1958-1963) e São Paulo VI (1963-1978) — os dois Papas que o antecederam no cargo.

Durante os seus 33 dias de papado, João Paulo I tinha o hábito de tomar uma xícara de café na sacristia de uma capela onde rezava até começar a missa das 7h. Foi assim que se descobriu a sua morte na manhã do dia 29 de setembro de 1978.

 

Foto: Wikimedia Commons

Como de costume, a freira Vicenza Taffarel preparou a sua bebida antes do sol nascer e a deixou na capela por volta das 5h30. Quando ela retornou ao local algum tempo depois, a irmã percebeu que o religioso não havia sequer tocado no chá, tampouco estava rezando no espaço.

Estranhando a mudança de comportamento, Taffarel resolveu ir até os aposentos do Papa para confirmar se ele precisava de alguma ajuda. Sem resposta às suas batidas na porta, ela resolveu entrar no quarto, acompanhada de outra freira, Margherita Marin.

Ao adentrar o ambiente, ambas notaram que João Paulo I estava deitado sobre sua cama, inerte, com seus óculos no rosto e algumas folhas de papel datilografadas ao lado. A luz do quarto ainda estava acesa, provavelmente da noite anterior. A partir daí, não foi difícil concluir que o líder da Igreja Católica estava morto.

“O rosto não mostrava sofrimento. Na verdade, ele tinha um sorriso leve, parecia estar dormindo”, lembrou Margherita, ao jornal La Stampa em 2017. “Ele parecia ter morrido sem perceber, pois não havia sinais de esforço de socorro. Deve ter sido bem rápido”.

Rumores sobre o caso

Sua morte, presumidamente causada por um ataque cardíaco, lançou uma sombra de suspeitas sobre o Vaticano. Isso porque a Itália passava por um momento muito turbulento, em razão da morte do Papa anterior, bem como do sequestro seguido do assassinato de Aldo Moro, ex-primeiro-ministro do país.

Em dado momento, a imprensa chegou a cogitar a hipótese de João Paulo I ter sido envenenado, mas não ofereceu qualquer evidência. Por outro lado, o Vaticano rejeitou o pedido de médicos de destaque no país que duvidaram do infarto e solicitaram uma autopsia no corpo.

Os rumores de crime não se calaram com o tempo. David Yallop, um autor britânico chegou, inclusive, a publicar no livro Em nome de Deus (1984), uma teoria na qual se indica que o Papa havia sido morto porque descobrira escândalos financeiros envolvendo a cúpula do Vaticano.

Décadas mais tarde, em 2019, o conhecido mafioso italiano Antoni Raimondi afirmou em um livro de memórias que ele era o assassino do Pontífice. Nenhuma das hipóteses, contudo, teve força o bastante para se impor sobre a versão oficial da Igreja Católica.

Vida de João Paulo I

Nascido, em 17 de outubro de 1912, em Forno di Canale (hoje Canale d’Agordo), no norte da Itália, Albino Luciani era de família simples, filho de operários. Desde cedo, envolveu-se com a religião, tendo estudado Filosofia e Teologia logo em seus primeiros anos como um adulto.

Ele foi ordenado sacerdote em 1935, com dispensa da Santa Sé, pois tinha apenas 23 anos. Enquanto padre, dedicou-se, com afinco, aos mais pobres – tanto aqueles que o procuravam quanto os que ele encontrava circulando pelas ruas da cidade.

Antes de ocupar o trono de São Pedro como Papa, ele ainda foi indicado à posição de arcebispo patriarca de Veneza em 1969. Pouco tempo depois, em 1973, tornou-se cardeal da Igreja Católica, ficando apto a votar e ser votado nos conclaves.

Foto: Vatican News

Quase três anos antes de morrer, em 2022, o Papa Francisco foi responsável por ordenar a beatificação de João Paulo I. Esse é um dos passos para a sua canonização, o processo que reconhece oficialmente um beato como santo.

A iniciativa de invocar o Papa João Paulo I foi tomada pelo pároco da paróquia à qual pertencia o hospital onde estava a criança. Pouco tempo depois, a menina milagrosamente começou a apresentar melhoras e, hoje, encontra-se completamente curada.

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