As vesículas biliares dos bois guardam um tesouro pouco conhecido, o chamado “ouro bovino“. As pedras, geralmente encontradas em animais mais velhos, possuem formato arredondado e uma cor entre o dourado e o marrom. Esses cálculos biliares possuem entre 1 e 3 cm de diâmetro e pesam cerca de 10 gramas. A probabilidade de encontrar uma em um boi é de, pelo menos, uma entre 500. Sua raridade está no fato de elas serem muito valorizadas pela medicina tradicional chinesa: essas pedras são usadas há séculos na Ásia para tratar doenças diversas.
“De acordo com a Farmacopeia Chinesa, essa substância é descrita como tendo uma natureza refrescante e doce, sendo associada aos meridianos do coração e do fígado”, escreveram os autores de um estudo sobre o tema, vindos da Universidade de Chengdu. “É conhecida por sua capacidade de purificar o coração, eliminar o fleuma, induzir a ressuscitação, resfriar o fígado, aliviar sintomas relacionados ao vento e desintoxicar o corpo”.
E é da Ásia, especialmente da China, que tem vindo a crescente demanda — a ponto de o jornal chinês South China Morning Post denominar essas pedras de “o novo ouro”. Os chineses usam os objetos como ingredientes de pílulas usadas para tratar sintomas como febre alta, inconsciência, convulsões e inflamação no cérebro, além de certos tipos de derrame.
Em 2024, o valor do grama comercializado chegou a US$ 230 (R$ 1.300) no mercado internacional. Para efeito de comparação, o grama do ouro 24 quilates está por volta de R$ 600 atualmente. Só Hong Kong importou R$ 1,2 bilhão em pedras de vesícula de boi em 2023, aumento de 66% em relação ao ano anterior. O Brasil, a Austrália, a Colômbia, a Argentina, os EUA e o Paraguai, nessa ordem, são os maiores fornecedores para a região.
O Brasil, inclusive, maior exportador de gado do planeta, é um dos maiores fornecedores do mundo. Tanto é que o crime organizado já tomou conhecimento: no começo deste ano, bandidos armados invadiram uma fazenda em São João da Boa Vista (SP), amarraram os proprietários e fugiram levando quase R$ 300 mil em pedras de vesícula.
Em uma reportagem do The Wall Street Journal, José de Oliveira, diretor executivo da Oxgall, uma empresa goiana de comércio de cálculos biliares, disse que a qualidade e o preço dos cálculos biliares varia muito, sendo as pedras de cor marrom-castanha consideradas as mais puras. “Em média, pagamos entre R$ 340 e R$ 800 por grama”, disse ele. Isso significa que um único cálculo biliar pode valer mais do que toda a carne de uma vaca. Pra que ouro quando você tem vacas, não é mesmo?
Fonte: Victor Bianchin-Galileu