Após dias de discussões nos bastidores, os europeus — que foram efetivamente marginalizados desde que Israel começou a bombardear instalações nucleares iranianas na semana passada — estão agora tentando exercer a influência limitada que têm como fornecedores de armas ou potenciais pacificadores.
Em um esforço para diminuir a tensão do conflito, os ministros das Relações Exteriores do Reino Unido, França e Alemanha, juntamente com Kaja Kallas, chefe da política externa da União Europeia, devem se reunir na sexta-feira com seu homólogo iraniano.
A reunião, marcada para Genebra, é o envolvimento europeu mais significativo desde que Israel lançou seus ataques surpresa contra o Irã — se não for antecipada por ataques militares americanos. Seria a primeira reunião formal entre o Irã e o Ocidente desde o início da guerra.
Na quarta-feira, eles pediram moderação e redução da tensão entre o Irã e Israel. Na sexta-feira, eles devem instar os iranianos a retornarem às negociações, mesmo com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, mantendo a possibilidade de envolvimento militar americano sobre suas cabeças.
É improvável que as opiniões europeias sejam um fator importante na decisão de Trump sobre atacar ou não o Irã. Ele já tentou contornar a Europa e negociar um acordo nuclear por conta própria, embora sem sucesso.
Ainda assim, se as tropas americanas forem atingidas pelo Irã, Washington esperará o apoio europeu. Se um acordo negociado for concluído, os europeus serão importantes, tanto nas Nações Unidas quanto na Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), órgão fiscalizador do Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP), para ajudar a aplicá-lo.
“A União Europeia pode desempenhar e desempenhará seu papel na busca de uma solução diplomática”, disse Kallas esta semana, acrescentando que “não poupará esforços nesse sentido”.
A posição da Europa é prejudicada por sua divisão em relação a Israel. Autoridades alemãs, francesas e da União Europeia intensificaram as críticas à conduta militar israelense em Gaza. Mas eles têm sido muito mais cautelosos e divididos quando se trata dos ataques ao Irã. O chanceler alemã os acolheu, enquanto o presidente francês alertou contra uma guerra mais ampla.
Acordo sobre programa nuclear
No passado, a Europa já desempenhou um papel mais importante no desafio nuclear iraniano.
Quando era chefe da política externa do bloco, Javier Solana abordou o Irã pela primeira vez em 2007 sobre seu preocupante programa nuclear. Solana iniciou negociações com os iranianos que mais tarde se expandiram para incluir os países membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU — Reino Unido França, China, Rússia e Estados Unidos — além da Alemanha, sob a presidência da União Europeia.
Isso resultou no acordo de 2015, que deu ao Irã alívio das punitivas sanções econômicas e militares em troca de limites ao seu enriquecimento de urânio.
Como o acordo tinha prazo determinado e não proibia todo o enriquecimento iraniano, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, e Trump criticaram duramente o pacto, que Trump chamou de “o pior acordo da história”.
Trump retirou os Estados Unidos do acordo em 2018, para a ira dos europeus. Os europeus permaneceram, mas, sem os EUA, o Irã logo retomou as atividades de enriquecimento.
Agora, os líderes europeus estão divididos. Eles não querem que o Irã produza uma arma nuclear. No entanto, temem uma guerra regional que danifique a infraestrutura energética, eleve ainda mais o preço do petróleo e do gás, feche o Estreito de Ormuz e traga outra onda de solicitantes de asilo em pânico para a Europa.
Kallas deve apresentar na segunda-feira aos ministros das Relações Exteriores o que se espera ser uma análise crítica das ações de Israel em Gaza. António Costa, presidente do Conselho Europeu, sugeriu que Israel poderia ser considerado em violação de suas obrigações em matéria de direitos humanos e poderia enfrentar sanções de Bruxelas. Mas ainda não está claro se os Estados-membros da UE têm realmente o consenso necessário para repreender Israel.
O presidente francês, Emmanuel Macron, alertou esta semana contra o conflito entre Israel e o Irã, que pode se transformar em um esforço de “mudança de regime”, como a guerra no Iraque. Ele pediu ao seu ministro das Relações Exteriores que trabalhe com os europeus para chegar a um “acordo negociado rigoroso” para acabar com a guerra.
No passado, a França foi o país ocidental mais duro em exigir que o programa nuclear do Irã fosse contido e rigorosamente supervisionado, a fim de manter a credibilidade do Tratado de Não Proliferação Nuclear. Ao mesmo tempo, em um sinal de descontentamento com o governo israelense, Macron está brincando com o reconhecimento simbólico de um Estado palestino.
Fonte: Agência O Globo