O vereador Lucas Coelho, de 33 anos, indiciado pelo assassinato do ex-noivo Jhonatan Simões, renunciou ao mandato na Câmara Municipal de Araújos, em Minas Gerais. A renúncia foi oficializada durante reunião ordinária na última terça-feira (12), após a abertura de um processo de cassação contra ele.
A carta de renúncia, redigida pela advogada Isabela de Souza Damasceno, foi lida durante a sessão e destacou o estado de saúde mental de Lucas Coelho como uma das razões para a decisão.
“O processado é portador de transtorno bipolar ou de humor. Episódio depressivo grave, associado ao transtorno de personalidade dependente. Patologias que o impõem em tratamento médico psiquiátrico contínuo”, informou o documento.
O texto também aponta que o processo de cassação agrava o estado emocional do ex-vereador, o que o levou a optar pela renúncia. Após a leitura da carta, o presidente da Câmara, Saulo Geraldo de Azevedo Santos, anunciou a posse da suplente Tatyane Santos (PSD).
Desde 18 de julho, Lucas Coelho cumpre prisão domiciliar, após o Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) conceder habeas corpus e converter a prisão preventiva em medidas cautelares.
Lucas foi indiciado pela Polícia Civil em 13 de junho por homicídio qualificado. A investigação foi apresentada em entrevista coletiva pela Polícia Civil e pelo Ministério Público (MP). De acordo com o delegado Ricardo Augusto de Bessas, o crime foi premeditado e cometido com crueldade.
“A convicção da Polícia Civil hoje é que o ocorrido é um crime de homicídio doloso qualificado, qualificado pelo motivo torpe, qualificado pela dificuldade da defesa da vítima, já que o investigado procedeu através de tocaia”, afirmou.
Ainda segundo o delegado, o assassinato teria sido motivado por um relacionamento conturbado e possessivo. Em fevereiro deste ano, Jhonatan chegou a registrar um boletim de ocorrência relatando agressões, ameaças e danos ao seu carro por parte de Lucas. “A situação se agravou, várias ameaças foram proferidas. Em fevereiro deste ano, o investigado agrediu a vítima, danificou o carro dela na zona rural de Araújos e, inclusive, proferiu a seguinte ameaça: ‘Vou derramar seu sangue, Formiga vai chorar seu luto’”, disse Bessas.
Outro fator que teria agravado o conflito entre os dois foi a descoberta, por parte de Jhonatan, de que havia contraído HIV. Ele acusava o vereador, que é soropositivo, de não tê-lo informado sobre sua condição de saúde.
“O relacionamento passou a ser mais conturbado ainda a partir do momento em que a vítima tomou conhecimento de que ela havia contraído o vírus HIV. A vítima se sentiu prejudicada, porque o investigado era soropositivo e não havia informado essa circunstância para a vítima quando iniciaram o relacionamento”, explicou o delegado.
Com a renúncia ao cargo, Lucas Coelho deixa oficialmente a vida pública em meio às graves acusações de homicídio qualificado e às denúncias sobre o relacionamento abusivo com a vítima. O caso segue sob investigação, enquanto o ex-vereador permanece em prisão domiciliar aguardando os desdobramentos judiciais.
Relembre o caso
Jhonathan Silva Simões, conhecido como Jhony, de 31 anos, foi assassinado a tiros no dia 29 de maio, em Formiga (MG), quando chegava em casa após o trabalho. O crime, que gerou grande comoção na cidade, tem como principal suspeito o então vereador Lucas Coelho, com quem a vítima manteve um relacionamento por cerca de um ano.
Segundo informações da família, câmeras de segurança mostram que o atirador aguardou a chegada de Jhony por aproximadamente 45 minutos. O professor foi atingido por seis tiros disparados pelas costas, e o suspeito do crime fugiu com o rosto coberto.
A relação entre Jhony e Lucas Coelho teria chegado ao fim em fevereiro, e, de acordo com familiares, o período pós-término foi marcado por perseguições, ameaças e atitudes abusivas por parte do parlamentar. Ainda segundo os familiares, Jhony chegou a solicitar uma medida protetiva, mas teve o pedido negado pela Justiça.
Na época, a negativa foi justificada pela ausência de previsão legal para esse tipo de proteção em relacionamentos homoafetivos. “A justificativa foi que o recurso seria exclusivo para mulheres”, relatou o primo da vítima. Após a sanção de uma nova legislação que passou a garantir o direito também a casais homoafetivos, Jhony não voltou a solicitar a medida.
Lucas Coelho se apresentou à polícia no dia 5 de junho, em Bom Despacho, acompanhado de um advogado, e teve a prisão decretada pelas autoridades.
No dia seguinte, a Câmara Municipal de Araújos publicou uma portaria suspendendo o mandato e o salário do vereador, com base no regimento interno da Casa, que determina o afastamento em casos de prisão preventiva. Em nota oficial, a Câmara lamentou o ocorrido e manifestou solidariedade à família da vítima.
A morte de Jhony e os desdobramentos do caso levantaram debates sobre a proteção de pessoas em relacionamentos homoafetivos e a eficácia das medidas judiciais preventivas. O caso segue sob investigação, enquanto o vereador Lucas Coelho responde judicialmente pelas acusações, com o mandato suspenso e sob custódia da Justiça.
Com informações do G1