Em meio ao cenário de crescentes tensões comerciais internacionais, os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva, do Brasil, e Emmanuel Macron, da França, reafirmaram nesta quarta-feira (20) o compromisso com a conclusão do acordo entre Mercosul e União Europeia. A negociação, que se arrasta há mais de duas décadas, enfrenta entraves — especialmente por parte da França, que aponta preocupações ambientais como principal obstáculo.
Durante uma conversa telefônica de quase uma hora, os dois líderes manifestaram intenção de intensificar o diálogo com vistas à assinatura do tratado ainda neste semestre, enquanto o Brasil ocupa a presidência rotativa do Mercosul. De acordo com nota divulgada pelo Palácio do Planalto, Lula e Macron “comprometeram-se a ultimar o diálogo” em torno do acordo, cuja aprovação definitiva permanece pendente.
O presidente francês argumenta que o tratado não contempla de forma adequada exigências ambientais nas produções agrícola e industrial. Lula, por sua vez, rebateu que a França adota postura protecionista em relação ao seu setor agrícola. A possível superação deste impasse representa um passo importante para a estratégia brasileira de ampliar parcerias comerciais e fortalecer os países do Sul Global.
Além do tratado com a União Europeia, o Mercosul também avança em negociações com outros blocos e países. Já foi fechado um acordo com a Associação Europeia de Livre Comércio (Efta), formada por Islândia, Liechtenstein, Noruega e Suíça. O bloco sul-americano também mantém tratativas com Japão, Vietnã e Indonésia. Paralelamente, Lula articula uma cúpula virtual do Brics para setembro, reforçando sua política de diversificação de alianças internacionais.
Outro tema discutido entre Lula e Macron foi a recente elevação das tarifas de importação por parte dos Estados Unidos contra o Brasil. Em 6 de agosto, o presidente Donald Trump anunciou tarifas de até 50% sobre determinados produtos brasileiros, alegando prejuízos às big techs americanas e respondendo ao julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, acusado de tentativa de golpe em 2022. Especialistas ouvidos pela Agência Brasil classificaram a medida como uma forma de “chantagem política” com o objetivo de enfraquecer o Brics, visto por Washington como ameaça à hegemonia global americana.
Durante o telefonema, Lula criticou a instrumentalização política de tarifas comerciais e informou Macron sobre as ações brasileiras para proteger trabalhadores e empresas, além do recurso já apresentado à Organização Mundial do Comércio (OMC) contra as “injustificadas tarifas norte-americanas”.
Outro ponto abordado foi a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30), que ocorrerá em Belém (PA), em novembro de 2025. Macron confirmou presença no evento, considerado por Lula como a “COP da verdade”. Segundo o presidente brasileiro, será uma oportunidade para expor quais países realmente acreditam na ciência e enfrentam com seriedade a crise climática. O governo brasileiro destacou suas metas ambientais e cobrou da União Europeia compromissos à altura dos desafios globais.
Na pauta internacional, os presidentes também trataram da guerra entre Rússia e Ucrânia, que já dura mais de três anos. Macron, que esteve recentemente na Casa Branca com o presidente ucraniano Volodymyr Zelenskiy e o presidente norte-americano Donald Trump, elogiou a atuação do Grupo de Amigos da Paz — iniciativa liderada por Brasil e China — em busca de soluções diplomáticas para o conflito. Lula e Macron concordaram em manter o diálogo sobre o tema.
Lula também demonstrou preocupação com o aumento dos gastos militares globais, enquanto cerca de 700 milhões de pessoas ainda sofrem com a fome. O presidente ressaltou a saída do Brasil do Mapa da Fome da FAO e defendeu reformas nas instituições multilaterais para garantir uma governança internacional mais justa e representativa.
No plano bilateral, os presidentes comprometeram-se a aprofundar a cooperação em defesa. Brasil e França já mantêm parcerias estratégicas nesse setor, com projetos conjuntos na construção de helicópteros, submarinos e satélites.
A conversa entre Lula e Macron reafirma o alinhamento entre os dois países em temas globais prioritários e reforça o empenho do Brasil na liderança de uma agenda internacional baseada em diálogo, multilateralismo e cooperação.
Com informações do Metrópoles