O cessar-fogo e o acordo de reféns entre Israel e o Hamas, anunciados na quarta-feira (8) após intensas negociações no Egito, representam um avanço aguardado na tentativa de encerrar a guerra de dois anos em Gaza.

A principal diferença nesses esforços tem sido o envolvimento pessoal do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que pressionou não apenas o Hamas, mas também Israel. A iniciativa é considerada uma vitória diplomática para Trump, que busca ser reconhecido como o responsável pelo fim do conflito.

Israel iniciou a guerra em Gaza em resposta aos ataques do Hamas em 7 de outubro de 2023, que deixaram cerca de 1,2 mil mortos — a maioria civis israelenses — e resultaram no sequestro de 251 pessoas.

A ofensiva militar israelense matou mais de 67 mil palestinos, segundo o Ministério da Saúde do território, controlado pelo Hamas. A maioria das vítimas era civil, incluindo mais de 18 mil crianças. Os números são considerados confiáveis pela Organização das Nações Unidas (ONU) e outros organismos internacionais. A ação destruiu grande parte do território e provocou uma crise humanitária catastrófica.

O acordo anunciado corresponde à primeira fase de um plano revelado por Trump na Casa Branca na semana passada, ao lado do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, que já foi acusado de sabotar esforços anteriores por um acordo.

Desta vez, Trump, supostamente impaciente e irritado com Netanyahu, parece ter usado o poder que só os Estados Unidos têm para influenciar Israel, deixando o premiê sem outra opção a não ser se envolver no processo.

Sob ameaça de “obliteração completa” por parte de Trump, o Hamas também enfrentou intensa pressão. Países árabes e muçulmanos apoiaram o plano do presidente americano, com forte envolvimento do Egito, Catar e Turquia nas negociações.

Embora os detalhes do acordo ainda não tenham sido divulgados, o esboço prevê a libertação imediata de 20 reféns que se acredita estarem vivos, possivelmente já no domingo. Os restos mortais de até 28 reféns mortos serão devolvidos em etapas.

Centenas de prisioneiros palestinos serão libertados das prisões israelenses, tropas israelenses se retirarão de partes de Gaza e haverá aumento na ajuda humanitária ao território.

A pressão por um acordo aumentou após a tentativa frustrada de Israel de assassinar altos funcionários do Hamas, incluindo participantes das negociações em Doha, capital do Catar, no mês passado. A ação provocou revolta na região, inclusive entre aliados importantes na ONU. A equipe de Trump teria identificado nessa situação uma oportunidade.

Trump expressou publicamente seu desejo de receber o Prêmio Nobel da Paz, que será anunciado na sexta-feira (10), prazo que pode ter influenciado o ritmo das negociações. Nas redes sociais, o presidente usou sua hipérbole habitual, classificando o acordo como um “evento histórico e sem precedentes” e os “primeiros passos em direção a uma paz forte, duradoura e eterna”.

Apesar do avanço, o momento não garante que um acordo de paz definitivo para Gaza será alcançado. Detalhes cruciais ainda precisam ser definidos, como a exigência israelense de desarmamento do Hamas, a extensão da retirada de tropas israelenses e o plano para o governo do território.

Em Gaza, palestinos comemoraram o anúncio no meio da noite, na esperança de que o sofrimento chegue ao fim. Em Tel Aviv, moradores se reuniram na Praça dos Reféns, símbolo da dor provocada pelos sequestros.

O Hamas reconhece que, ao liberar os reféns, perderá influência nas negociações. O grupo exigiu garantias de que Israel não retomará os combates após a libertação, mas há motivos para desconfiança: em março deste ano, Israel rompeu um cessar-fogo e lançou ataques aéreos devastadores.

Em Israel, país exausto pelo conflito, pesquisas de opinião pública indicam que a maioria da população deseja o fim da guerra. Há crescente consciência sobre os danos à imagem internacional do país e seu isolamento. Retomar os combates, sob pressões internas e externas, parece menos provável.

Ainda assim, Netanyahu pode enfrentar obstáculos políticos. Ele conta com o apoio de ministros ultranacionalistas que ameaçaram deixar a coalizão em caso de acordo, fator que pode tê-lo levado a prolongar o conflito. Uma eleição está prevista até o final de outubro de 2026, o que tende a reduzir, com o tempo, o receio de um colapso do governo.

Netanyahu prometeu alcançar uma “vitória total” contra o Hamas, e qualquer acordo terá de permitir que ele sustente essa narrativa. Chamou o anúncio de uma “vitória diplomática, nacional e moral para o Estado de Israel”. Ao contrário do Hamas, porém, sua declaração não mencionou o fim da guerra.

Com informações do G1 Mundo

 

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