Um estudo recente do Centro Alemão de Pesquisa do Câncer (DKFZ), publicado em 9 de outubro na revista Science, revelou que a acidez do ambiente tumoral não é apenas um subproduto da doença, mas um elemento essencial para a sobrevivência e crescimento das células cancerígenas. A descoberta abre caminho para novas estratégias de tratamento oncológico, especialmente para tipos agressivos como o câncer de pâncreas.
Pesquisadores do DKFZ investigaram como as células tumorais conseguem sobreviver e proliferar em condições hostis, caracterizadas pela falta de oxigênio, escassez de nutrientes e acúmulo de resíduos metabólicos. Utilizando a técnica de edição genética CRISPR-Cas9 em células de câncer pancreático, os cientistas testaram centenas de genes para descobrir quais eram indispensáveis à sobrevivência das células em ambientes adversos.
O fator mais determinante, segundo o estudo, foi a acidez do meio, e não a ausência de oxigênio ou glicose. Em um pH muito baixo, as células cancerígenas passam por uma reprogramação metabólica: deixam de utilizar prioritariamente a glicólise — processo que quebra a glicose para gerar energia — e passam a explorar com mais eficiência as mitocôndrias, organelas responsáveis pela respiração celular.
Em ambientes ácidos, as mitocôndrias das células malignas se fundem, formando redes mais longas e estáveis, o que torna o processo de geração de energia mais eficaz. Essa fusão mitocondrial é regulada por uma via de sinalização chamada ERK, que normalmente estimula o crescimento celular, mas que é inibida em ambientes de pH ácido. Com essa inibição, as mitocôndrias evitam a fragmentação e funcionam com maior estabilidade.
Para comprovar o papel essencial desse mecanismo, os pesquisadores manipularam geneticamente as células para impedir a fusão das mitocôndrias. Como resultado, elas perderam a capacidade de crescer em ambientes ácidos, confirmando que a acidez não é apenas um sintoma, mas um fator ativo na estratégia de sobrevivência tumoral.
Embora o estudo tenha sido conduzido com células de câncer pancreático, os autores acreditam que esse mecanismo de adaptação pode estar presente em outros tipos de tumor, como os de mama, fígado e pulmão. Os resultados sugerem que novas abordagens terapêuticas podem se beneficiar do combate à acidez do microambiente tumoral. Estratégias que impeçam a fusão mitocondrial, neutralizem o pH ácido ou desenvolvam medicamentos específicos para atuar nesse tipo de ambiente podem enfraquecer as células cancerígenas sem comprometer as saudáveis.
Saiba mais: Câncer de Pâncreas
- O câncer de pâncreas ocorre quando células anormais se multiplicam no pâncreas, formando tumores.
- Os principais sintomas incluem dor abdominal ou nas costas, perda de apetite, perda de peso involuntária, icterícia (pele e olhos amarelados), urina escura, fezes claras, coceira, indigestão e fadiga.
- O tratamento varia conforme o estágio da doença e pode envolver cirurgia, quimioterapia ou radioterapia.
- Não há formas específicas de prevenção, mas evitar o tabagismo, o consumo excessivo de álcool e a obesidade são medidas que ajudam a reduzir o risco da doença.
Com informações do Metrópoles