Cerca de 546 mil pessoas morrem todos os anos em decorrência do calor extremo em todo o mundo, e, apenas em 2024, outras 154 mil mortes foram provocadas pela fumaça dos incêndios florestais. Os dados constam no relatório Contagem regressiva em saúde e mudanças climáticas, elaborado por mais de cem cientistas de diversos países e publicado pela revista The Lancet, em parceria com a Organização Mundial da Saúde (OMS). O documento, divulgado nessa segunda-feira (27) na Inglaterra, traz um alerta global sobre os impactos da crise climática na saúde e defende ações urgentes de mitigação e adaptação.
O relatório foi publicado em antecipação à 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30), que será realizada em Belém (PA) a partir de 10 de novembro. O texto faz um apelo para a redução consistente do uso de combustíveis fósseis e das emissões de gases de efeito estufa, além de medidas que minimizem os efeitos das mudanças climáticas sobre a população.
“Com os impactos das mudanças climáticas aumentando, a saúde e a vida dos 8 bilhões de habitantes do mundo estão agora em risco”, alertam os cientistas.
De acordo com o estudo, 2024 foi o ano mais quente já registrado, o que levou 12 dos 20 indicadores de riscos à saúde relacionados ao clima a atingirem níveis sem precedentes. Entre 2020 e 2024, as pessoas foram expostas, em média, a 19 dias de ondas de calor por ano, sendo que 16 desses episódios não teriam ocorrido sem o aquecimento global.
Brasil e América Latina:
A publicação também apresenta dados específicos sobre o Brasil. Entre 2020 e 2024, o país registrou 7,7 mil mortes anuais associadas à fumaça dos incêndios florestais e 3,6 mil mortes por ano relacionadas ao calor, considerando o período de 2012 a 2021.
Os pesquisadores estimam ainda que a população brasileira foi exposta, em média, a 15,6 dias de onda de calor por ano, e que 94% desses eventos não teriam acontecido sem as mudanças climáticas. Além disso, o relatório mostra que 72% das terras do país enfrentaram ao menos um mês de seca extrema por ano entre 2020 e 2024 — proporção quase dez vezes maior do que a observada nas décadas de 1950 e 1960.
Na América Latina, a temperatura média vem aumentando de forma contínua desde os anos 2000, alcançando o recorde de 24,3°C em 2024. Como consequência, as mortes relacionadas ao calor chegam a 13 mil por ano na região.
Apesar dos números alarmantes, o relatório expressa otimismo com as negociações internacionais. O documento afirma que “construir um futuro resiliente exige transformar fundamentalmente nossos sistemas de energia e reduzir nossa dependência de combustíveis fósseis”.
A publicação reforça que a adaptação “não é mais opcional, mas sim uma necessidade essencial e inegociável”, a fim de “reduzir os riscos climáticos, aumentar a resiliência e enfrentar as desigualdades socioeconômicas existentes”.
Com a proximidade da COP30, o texto destaca o papel estratégico do Brasil no cenário global. “À medida que se aproxima a COP30 em Belém, o Brasil desponta como um farol de esperança e transformação, com uma oportunidade única de liderar ações de adaptação e mitigação climática que priorizem a saúde, promovendo o desenvolvimento sustentável e o bem-estar para todos”, conclui o relatório.
Com informações da Agência Brasil










