A crise financeira nos Correios se tornou crítica, e a estatal deve responder por mais da metade do prejuízo previsto para todas as empresas públicas federais em 2025. Segundo comunicado interno da direção, o rombo acumulado no primeiro semestre já ultrapassa R$ 4 bilhões e pode chegar a R$ 10 bilhões até o fim do ano, após o governo federal dobrar sua previsão de déficit para a empresa.

Nos últimos dez anos, os Correios tiveram prejuízo em cinco, incluindo 2024, quando o déficit foi superior a R$ 2,5 bilhões. A queda na participação de mercado é um fator agravante: de responsável por metade do setor de encomendas, a estatal passou a responder por apenas um quarto, devido à falta de investimentos e à concorrência de empresas mais modernas.

O impacto da crise ultrapassa a própria empresa e atinge as contas públicas. O déficit das estatais federais em 2025, inicialmente estimado em R$ 6 bilhões, passou para R$ 9 bilhões em razão dos Correios. Para respeitar as metas fiscais, o governo contingenciou R$ 3 bilhões de gastos em diferentes ministérios.

Economistas apontam que a solução para os Correios é complexa. Paulo Feldmann, da USP e da FIA, defende a privatização de áreas em que a estatal não consegue investir ou não possui expertise, ressaltando que o rombo atual é pago pelo governo e, consequentemente, pelos brasileiros.

Reestruturação e medidas anunciadas
O governo divulgou um plano de reestruturação que inclui cortes, parcerias, venda de imóveis e novos empréstimos. Entre as medidas, estão:

  • Demissão voluntária de até 10 mil empregados do quadro de 83 mil;
  • Venda de cerca de mil agências deficitárias;
  • Arrecadação de R$ 1,5 bilhão com venda de imóveis;
  • Parcerias estratégicas, fusões e aquisições;
  • Busca por empréstimos de R$ 20 bilhões.

Segundo Márcio Holland, professor de Economia da FGV-SP, cerca de 85% dos pontos de atendimento são deficitários, o que torna fundamental o fechamento de agências próximas ou pouco utilizadas. A direção dos Correios afirma que o plano busca garantir sustentabilidade financeira, modernizar a operação e manter a continuidade dos serviços postais no país.

Para especialistas, a reestruturação chega tardiamente e pode não ser suficiente sem a participação do setor privado. Feldmann e Holland defendem a entrada de capital privado para melhorar a governança, reduzir a influência político-partidária e tornar a gestão mais eficiente. Segundo eles, uma equipe profissional poderia, em um período determinado, definir quais áreas da estatal podem ser privatizadas, garantindo maior eficiência e continuidade dos serviços essenciais.

A crise nos Correios, com rombos bilionários e impacto direto nas contas públicas, reforça a necessidade de mudanças profundas na gestão e na estrutura da estatal. A reestruturação anunciada pelo governo busca conter prejuízos e modernizar a operação, mas especialistas alertam que, para garantir sustentabilidade a longo prazo, será fundamental contar com parcerias com a iniciativa privada.

Com informações do G1/ Jornal Nacional

 

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