O juro básico da economia, fixado pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, deve voltar nesta semana ao patamar de dois dígitos, ou seja, acima de 10% ao ano.

A reunião do Copom que definirá o patamar da taxa de juros está marcada para estas terça (1º) e quarta-feira (2). O resultado será anunciado após o encontro.

A expectativa dos economistas do mercado financeiro, colhida pelo BC em pesquisa realizada com mais de 100 inA expectativa dos economistas do mercado financeiro, colhida pelo BC em pesquisa realizada com mais de 100 instituições financeiras na semana passada, é de que a taxa avance dos atuais 9,25% para 10,75% ao ano.

Se confirmado esse movimento, será a primeira vez em quatro anos e meio (desde julho de 2017) que a taxa ficará em dois dígitos. Naquela ocasião, a Selic estava em 10,25% ao ano.

O atual ciclo de alta dos juros começou em março de 2021, quando a Selic subiu da mínima histórica de 2% para 2,75% ao ano. Desde então, foram sete altas seguidas, com a taxa atingindo o maior patamar em mais de quatro anos.

Devido ao aumento da taxa básica da economia, os juros bancários tiveram em 2021 a maior alta em seis anos e atingiram 33,9% ao ano. Em cerca de 350% ao ano, o juro rotativo do cartão de crédito é o maior desde agosto de 2017.

O mercado financeiro espera novo aumento na taxa Selic em 2022. A expectativa é que a taxa suba para 11,75% ao ano, no próximo mês de março, e que volte a a cair somente no começo de 2023 — quando recuaria para 11,25% ao ano.

Combate à inflação

O Banco Central tem elevado os juros para combater a inflação, que atingiu 10,06% ao ano em 2021, a maior em seis anos.

A instituição atua com base no sistema de metas de inflação. Quando a inflação está alta, o BC eleva a Selic. Quando as estimativas para a inflação estão em linha com as metas, reduz a Selic.

No último ano, a inflação foi puxada principalmente pelos transportes, que apresentaram a maior variação (21,03%) e o maior impacto (4,19 pontos percentuais) no IPCA do ano.

Na sequência vieram habitação (13,05%), que contribuiu com 2,05 pontos percentuais, e alimentação e bebidas (7,94%), com impacto de 1,68 ponto percentual. Juntos, os três grupos responderam por cerca de 80% do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA, indicador oficial da inflação) de 2021.

Com a disparada, a inflação ficou bem cima do teto da meta para 2021, que era de 5,25%. Pelo sistema vigente, o IPCA poderia ficar entre 2,5% e 5,25% para que a meta fosse oficialmente cumprida. O objetivo central oficial era de 3,75%.

Neste momento, o BC já está mirando nas metas de inflação de 2022 e de 2023, cujo objetivo central é de, respectivamente, 3,5% e de 3,25% ao ano. Para este ano, o mercado estima, até o momento, novo estouro da meta de inflação.

Pandemia e fatores climáticos

Segundo o economista-chefe do banco Alfa, Luis Otavio de Souza Leal, o eventual aumento da taxa de juros para um patamar acima de 10% ao ano decorre de uma série de fatores internos e externos, como a pandemia da Covid-19 e fatores climáticos, como a crise hídrica — que geraram aumento nos preços da energia elétrica e dos alimentos.

“A gente tem que lembrar que a gente veio de uma crise sem precedentes [Covid-19], não tanto pelo tamanho mas por você não ter nenhum tipo de experiência anterior de algo semelhante. Foi meio na tentativa e no erro”, declarou.

Ele lembrou que a taxa Selic chegou a ser reduzida para até 2% ao ano, algo sem precedentes, com o objetivo de se evitar uma depressão na economia.

Naquele momento, alguns economistas, como os do Fundo Monetário Internacional (FMI), chegaram a prever um tombo de quase 10% no PIB — que não se confirmou. A retração foi de 4,1% no ano passado.

Além de juros muito baixos, Leal observou que também foi implementada uma política forte de gastos públicos, por meio do auxílio emergencial de R$ 600, o que acabou estimulando a inflação.

Além disso, a falta de insumos para produção, em razão da da ruptura gerada pela pandemia, também ajudou na alta dos preços.

“E a cereja do bolo no Brasil é a indexação [mecanismo pelo qual uma alta de preços é transmitida para para o futuro]. O salário mínimo foi corrigido em 10% neste ano. E é justo, mas o problema é que isso retroalimenta a inflação porque isso vira consumo”, declarou o economista.

A expectativa de Leal é que a taxa de juros retorne ao patamar de um dígito (abaixo de 10% ao ano) em 2023 e atinja um nível menor, próximo de 6% ao ano, a partir de 2024, mas somente se o governo eleito implementar uma política de credibilidade para as contas públicas e levar adiante reformas econômicas.

Fonte: G1

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