O presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou, nesta segunda-feira (10), que se surpreendeu com a nota enviada pelo presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antonio Barra Torres, no último sábado (8), na qual desafiou o chefe do Executivo a apresentar provas sobre corrupção no órgão regulador.

Em entrevista à Jovem Pan, Bolsonaro caracterizou o documento como ‘agressivo’. “Me surpreendi com a carta dele. Carta agressiva. Não tinha motivo para aquilo. Eu falei: “o que é que está por trás do que a Anvisa vem fazendo?”. Ninguém acusou ninguém de corrupto. Por enquanto, não tem o que fazer no tocante a isso daí. Eu que indiquei o Almirante Barra para a Anvisa. A indicação é minha, assim como outros da diretoria passaram pelo crivo meu, que eu indiquei, foram sabatinados no Senado, mas foram indicação do próprio Barra Torres. Mas ele não precisava agir daquela maneira”, apontou.

“A conversa que eu tive com ele antes era sobre a vacinação de crianças. Eu perguntei para ele: “Olha, Barra, quantas crianças morreram no Brasil ao longo da pandemia? Hoje eu tive contato com um blog lá do RS onde pegava dados do CDC, americana. E no Rio Grande do Sul, durante o ano todo de 20, parte 21, não morreu nem uma criança de 5 a 11 anos. Eu questionei ele no tocante do por que liberar isso daquela forma, sem jogar pesado. Na própria bula que falava das circunstâncias de efeitos colaterais, a própria Pfizer diz que alguns efeitos colaterais só teremos conhecimento em 2022, 23, 24, 25”, continuou. 

Segundo um levantamento do Ministério da Saúde, de março de 2020 a dezembro de 2021, 311 crianças de 5 a 11 anos morreram de covid no Brasil.

O presidente disse ainda que o trabalho da Anvisa “poderia ser diferente”. “Falei para ele também: quem está vacinado transmite?”. “Sim”. “Quem não está vacinado, pode pegar?”. “Sim”. Acho que a Anvisa não sofre interferência, é um órgão independente, mas acredito que o trabalho poderia ser diferente”.
Bolsonaro disse que após a nomeação, Barra Torres ganhou “luz própria” e voltou a negar que estivesse acusando o órgão de corrupção.

“Ele pode rebater agora em cima dessa crítica. Quem decide é ele. Eu sei que é ele quem decide. Eu nomeei para lá, depois da nomeação, ele ganhou luz própria. Espero que ele acerte na Anvisa. Mas não tivemos nenhum atrito a ponto tal dele falar que eu tinha que identificar qualquer indício de corrupção. Deixo claro, em novembro a PF foi na casa de diretores antigos da Anvisa. Então, nenhum órgão está livre de corrupção. Agora, eu não acusei a Anvisa de corrupção. Eu perguntei o que está por trás dessa gana, dessa sanha vacinatória”.

O líder do Planalto repetiu o questionamento sobre quais seriam as intenções da Anvisa ao liberar a vacinação para crianças de 5 a 11 anos. 

“Repito: o que que está por trás, quais segundas intenções, quais outras intenções da Anvisa? Não houve da minha parte nenhuma acusação. A palavra corrupção não saiu da minha boca em nenhum momento e ele resolveu fazer uma carta bastante agressiva”.

Por fim, questionado sobre as duas próximas indicações ao STF a que o próximo presidente terá direito e 2023, Bolsonaro voltou falar em Barra Torres, dizendo que se tivesse mais convivência com ele, ‘talvez não o tivesse indicado’.

“Quem se eleger presidente leva consigo dois nomes para o Supremo. O eleitor tenha consciência disso. Hoje em dia o eleitor pode saber que dese FHC, Lula, Dilma, Temer e eu, todos nós indicamos ministros para o Supremo e você pode vincular o nome destes ministros ao nome de quem os indicou. O perfil dos meus dois ministros tá ai: é o Kássio e o André Mendonça. […] Não adianta um cara chegar para mim, uma autoridade, e dizer ‘esse cara tem um excelente currículo’. Isso passa por esse candidato ter uma afinidade ou outra comigo, para eu saber como ele vai proceder lá na frente. Eu não tinha conhecimento da vida pregressa do Barra Torres a não ser como um militar. Eu não tinha convivência com ele. Se tivesse, talvez não o indicasse”, emendou, dizendo não tratar-se de uma crítica ao almirante.

Barra torres divulgou uma nota rebatendo declarações feitas por Bolsonaro durante uma entrevista, na quinta-feira (6). Na ocasião, o chefe do governo questionou “o que está por trás” da decisão da Anvisa de autorizar a vacinação de crianças de 5 a 11 anos contra a covid-19. Também chamou os defensores da imunização infantil de “tarados por vacinas”. Desde a nota pública, Bolsonaro não havia se pronunciado sobre o assunto.

“Se o senhor dispõe de informações que levantem o menor indício de corrupção sobre este brasileiro, não perca tempo nem prevarique, Senhor Presidente. Determine imediata investigação policial sobre a minha pessoa, aliás, sobre qualquer um que trabalhe hoje na Anvisa, que com orgulho eu tenho o privilégio de integrar”, escreveu o diretor.

“Agora, se o Senhor não possui tais informações ou indícios, exerça a grandeza que o seu cargo demanda e, pelo Deus que o senhor tanto cita, se retrate. Estamos combatendo o mesmo inimigo e ainda há muita guerra pela frente. Rever uma fala ou um ato errado não diminuirá o senhor em nada. Muito pelo contrário”, concluiu no documento.

Fonte: Estado de Minas

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