Estudo conduzido por pesquisadores do Instituto de Química de São Carlos (IQSC), da Universidade de São Paulo (USP), reforça relação entre consumo em excesso de pipoca de micro-ondas e o desenvolvimento do Mal de Alzheimer. Os resultados foram divulgados nesta segunda-feira (4) pela instituição.

“Cientistas identificaram moléculas associadas ao alzheimer no cérebro de ratos que consumiram durante 90 dias seguidos o diacetil, composto responsável por dar o aroma e o gosto amanteigado à pipoca de micro-ondas. O resultado da pesquisa reforça a tese de que o consumo regular e em altas concentrações da substância pode gerar danos cerebrais”, diz trecho de nota à imprensa.

“Nós observamos que realmente existe essa tendência do diacetil causar danos ao cérebro. De 48 proteínas cerebrais que avaliamos após a exposição dos animais ao produto, 46 sofreram algum tipo de desregulação ou modificação em sua estrutura por conta do consumo prolongado do composto. Durante as análises, nós identificamos o aumento da concentração de proteínas beta-amiloides, que normalmente são encontradas em pacientes com Alzheimer. Além disso, outras alterações proteicas verificadas no cérebro dos ratos também podem estar relacionadas ao surgimento de demência e câncer”, explica Lucas Ximenes, doutorando do IQSC e autor da pesquisa, no texto.

O diacetil afetou tanto ratos machos quanto fêmeas, e parte das regiões do cérebro atingidas são comprometedoras, como o hipotálamo. “Até então, não se sabia exatamente quais os possíveis efeitos e modificações que o composto poderia gerar no cérebro de organismos vivos, existem poucos estudos nesse sentido, ainda é um universo pouco explorado. Além disso, alguns trabalhos utilizam quantidades absurdas do composto, até 50 vezes maiores que a nossa, o que facilita o aparecimento de problemas. O que nós fizemos foi utilizar concentrações de diacetil mais próximas do que seria um consumo diário normal”, detalha o pesquisador.

Processo

Para medir os danos causados pelo consumo excessivo do produto, os cérebros dos ratos foram avaliados por diversos aparelhos. Dentre eles, um espectrômetro de massas, que lê e gera mapas de calor em órgãos. Foi possível, com o aparato, observar em quais regiões “certas proteínas e o diacetil estão distribuídos”.

“Em uma segunda etapa, outro aparelho, chamado cromatógrafo, ajuda a determinar se essas proteínas sofreram alterações, como o aumento de sua concentração ou alguma mudança estrutural preocupante. Os testes foram realizados com um total de 12 ratos, sendo que metade foi o grupo controle (que tomou placebo) e a outra metade ingeriu o diacetil”, explica o texto.

Diacetil é usado em vários setores da indústria

De acordo com a “Agência USP”, o diacetil é amplamente usado em diversos setores da indústria e ganhou destaque no ramo alimentício por características que o tornam conservante e flavorizante.

“Podendo ser encontrado naturalmente na composição de cafés, cervejas, chocolates, leites e iogurtes, o diacetil é utilizado na pipoca de micro-ondas como um aditivo, em concentrações maiores. Apesar de seu consumo ser aprovado pelas agências reguladoras, a exposição prolongada ao produto pode ser prejudicial à saúde e, por estar presente no cotidiano da população, diferentes estudos buscam compreender a influência do composto em organismos vivos e como ele pode alterar funções biológicas”, pontua.

Ximenes destaca que estudos anteriores demonstraram que a substância é capaz de causar problemas de saúde, em especial condições pulmonares como bronquite obliterante. “A enfermidade, inclusive, ganhou o nome de ‘doença da pipoca de micro-ondas’ e, se não for tratada, pode até levar à morte”, explica Agência.

“Sua causa foi relacionada justamente a essa alta exposição ao diacetil. Ela surgiu após alguns pesquisadores acompanharem idosos que viviam comendo pipoca de micro-ondas e acabaram desenvolvendo a doença por conta do consumo em excesso”, completa o cientista.

“ A principal mensagem que nosso trabalho deixa é que precisamos tomar cuidado e nos preocupar cada vez mais com a qualidade da nossa alimentação. Claro que comer esporadicamente certos alimentos não tem problema, mas alguns prazeres em excesso podem fazer mal. Além disso, outro grande foco de nosso trabalho é fazer um alerta para o pessoal que trabalha nas fábricas de pipoca. Por mais que a gente coma o produto, nós temos muito menos contato com o diacetil do que os trabalhadores que lidam ou até inalam diariamente o composto”, conclui Ximenes.

Fonte: O Tempo

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