Em meio ao barulho político sobre supostos “rombos” e “ineficiências” nas estatais, o governo propõe diversas medidas para sanear as contas dos Correios, como a criação de um fundo imobiliário ou mesmo conseguir empréstimo na rede bancária privada e pública. Em meio a estas discussões, ressurge a proposta da oposição de privatizar os Correios. Defensores da ideia, ligados a interesses de fundos de investimento, veem na venda do patrimônio público a solução para os impasses de gestão e resultados deficitários. Entretanto, a experiência brasileira mostra outro resultado, quando a privatização apresentada como sinônimo de eficiência tem custado caro ao cidadão e ao país.

O caso da Enel em São Paulo é o exemplo mais claro. Ao assumir a distribuição de energia, a empresa prometeu modernização e melhoria no atendimento. Entregou apagões, aumento de tarifas e serviços instáveis. A “eficiência de mercado”, vendida como fórmula infalível, revelou-se frágil. A Enel se tornou o retrato da incapacidade do setor privado em garantir qualidade quando o lucro se sobrepõe ao interesse público.

Os Correios seguem como uma das poucas instituições presentes em todos os municípios do país. Nenhuma empresa privada sustentaria uma rede dessa dimensão sem cortar custos nas regiões menos lucrativas. Essa capilaridade é o que mantém o país conectado — e desmontá-la seria abrir mão de um ativo estratégico para a integração territorial e social do Brasil.

Privatizar os Correios é entregar uma infraestrutura essencial a grupos cujo objetivo é o lucro, não a universalização dos serviços. O resultado seria conhecido: fechamento de agências, demissões, exclusão de milhões de brasileiros que dependem do serviço postal para receber documentos, medicamentos e correspondências básicas.

O caminho está em outro sentido. O Brasil precisa modernizar os Correios, não vendê-lo. A estatal pode se tornar um conglomerado público eficiente e competitivo, com automação, robotização dos centros de logística e novos serviços digitais, inclusive com a abertura do capital na Bolsa de Valores. Pode gerar receita em frentes como o comércio eletrônico, jogos online regulamentados e um banco digital público — uma fintech estatal voltada à inclusão financeira.

Vários países usam atividades rentáveis para sustentar a missão pública de atendimento universal. O Brasil pode fazer o mesmo. Com gestão profissional, governança transparente e investimento em tecnologia, os Correios podem unir eficiência econômica e função social, sem depender do Tesouro e sem repetir os fracassos das privatizações.

O país não precisa se desfazer dos Correios. Precisa reinventá-lo. Entregar uma empresa estratégica ao mercado, em nome de uma “eficiência” já desmentida pela prática, seria retroceder. O caminho responsável é fortalecer a gestão, expandir a tecnologia e garantir que os Correios continuem sendo o que sempre foi: um elo de integração nacional e serviço público essencial para todos.

 

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