A dívida de Minas Gerais com a União, que hoje chega a R$ 156,2 bilhões, cresceu mais de 1000% desde 1998, quando o deficit se iniciou aos R$ 14,8 bilhões. A origem desta dívida e os motivos pelos quais ela aumentou exponencialmente tem sido motivo de debates entre entes civis e públicos, que questionam o Regime de Recuperação Fiscal (RRF) proposto pelo Governo Estadual.

O governador Romeu Zema (Novo) pretende aprovar o projeto até dia 20 de dezembro, data em que o governo afirma que precisará retornar o pagamento da dívida com a União. A dívida está suspensa desde o fim de 2018, quando o então governador Fernando Pimentel (PT) conseguiu uma liminar no Supremo Tribunal Federal (STF) permitindo o não pagamento dos encargos por cinco anos.

Afinal, como Minas Gerais se endividou com o Governo Federal?

 

1998: União assume dívidas dos estados

Em 1998, diversos estados do Brasil se encontravam com problemas financeiros e deficit. Para resolver o problema, o Governo Federal promoveu o Programa de Apoio a Reestruturação e Ajuste Fiscal dos Estados (PROES), e assumiu as dívidas dos entes da federação, entre eles Minas Gerais. O estado mineiro, então, passaria a pagar à União o valor estabelecido em R$ 14,8 bilhões em parcelas nos próximos anos, sujeitas a juros e correção monetária.

O deficit de Minas Gerais tinha duas origens e, por isso, o governador Eduardo Brandão Azeredo (PSDB) assinou dois contratos com a União, que assumiria essas dívidas.

 

Venda de títulos

O primeiro contrato dizia respeito à dívida obtida pela venda das Letras Financeiras do Tesouro Estadual (LFTE). Na época, os títulos foram vendidos ao mercado por 30% ou 40% do preço oficial, gerando um rombo nas finanças públicas. A dívida, entretanto, acabou sendo refinanciada pela União considerando o valor total dos títulos, aumentando ainda mais o valor a ser pago pelo estado ao Governo Federal. É o que explica a economista Eulália Alvarenga, especialista em Direito Tributário

É como se eu tivesse um título de R$ 100, mas você vai me comprar ele como se fosse R$ 30 ou R$ 40. Quando a União vai assumir a dívida de Minas, ela vai assumir a dívida desses títulos, que estavam no mercado como se valesse 30% do preço, mas a União vai assumir como se fosse 100%”.

Este primeiro contrato com a União, para o pagamento dos títulos, foi fechado no valor de R$ 10.185.063.760,20, em valores da época. Sobre cada parcela, o estado se comprometeu a pagar 7,5% de juros mais a correção da inflação.

 

Rombo nos bancos estaduais

O segundo contrato firmado com a União dizia respeito ao refinanciamento da dívida dos bancos estaduais. Na época, o Banco do Estado de Minas Gerais (Bemge) e o Banco de Crédito Real de Minas Gerais (Credireal) sofriam com rombos milionários, assumidos pelo estado e refinanciados pela União. Este contrato foi fechado no total de R$ 4.344.336.000,00, com pagamento de juros anual de 6,6% e correção da inflação.

Especialistas, entretanto, questionam o motivo que Minas Gerais assumiu a dívida dos bancos, já que há indícios que os rombos surgiram devido ao não pagamento de dívidas de grandes empresários, que acabaram “estatizando” uma dívida privada.

A formação da dívida pública contratual mineira foi impactada com a privatização ou extinção de bancos públicos, quando, seguindo determinação do Governo Federal, o Estado de Minas Gerais assumiu a dívida daqueles bancos, sem qualquer auditoria, em valor superior àquele dos ativos”, diz Eulália.

 

Dívida com a Cemig

Por fim, como entrada do pagamento à União, Minas Geras se comprometeu a arcar com o débito do Governo Federal com a Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), referente às insuficiências tarifárias. Esta dívida, entretanto, foi integralmente paga em 2012, durante o governo de Antônio Anastasia, que fez empréstimo externo de cerca de R$ 4 bilhões junto ao Banco Mundial e outras instituições internacionais.

 

Fonte: Itatiaia

 

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