A família de Natalice Gomes da Silva, 49 anos, afirma que recebeu uma oferta de R$ 15 mil da empresa VLI para que ela assumisse a culpa pelo atropelamento. Natalice teve a perna amputada e sofreu uma fratura na coluna ao ser atropelada por um trem nas futuras instalações da Linha II do metrô de Belo Horizonte, no dia 20 de junho.

A denúncia da família foi feita em audiência pública na Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG). Natalice foi atropelada enquanto atravessava os trilhos na altura do bairro Nova Cintra, região Oeste de BH. Ela diz que escorregou em entulhos de demolição de casas que estão sendo removidas para a instalação da linha de metrô. A vítima é moradora da região e faz parte das famílias que ainda não foram reassentadas. A filha da vítima, Jéssica Gomes da Silva, conversou com a Itatiaia sobre a situação da mãe.

Semana passada fizeram uma oferta de R$ 15 mil para eu assinar o papel, achando que eu não fosse ler. Eu li o papel, que estava tirando o direito da minha mãe. Ela tem direito, porque a perna dela não vale R$ 15 mil. Isso não chega nem a 1/3 do que a gente está gastando com ela, entendeu? E é muito sofrimento, porque antes ela tinha uma vida, saía sozinha, hoje ela fica dependente, em cima de uma cama. Ontem mesmo ela começou a passar mal por causa dos problemas de ficar assim, olhando para o alto, e hoje eu não sei mais o que fazer”, desabafou a filha.

Jéssica revelou ainda que foi tratada de maneira desrespeitosa pelo representante da VLI, empresa de logística multimodal que opera ferrovias, portos e terminais, conectando diversas regiões do Brasil.

É como se a gente fosse nada. No dia em que fizemos a manifestação, ele conversou numa boa. (Dessa vez), como era só eu e minha outra irmã, ele já alterou o tom de voz quando falei que ia ler o papel, que não ia assinar sem ler. Logo em seguida, quando vi o trecho dizendo que minha mãe era a culpada, ele virou e falou que realmente a culpa era dela. Eu perguntei para ele onde minha mãe deveria passar, porque a vida inteira ela passou por ali, até antes de começarem essa construção. Depois que mexeram, aconteceu o que aconteceu com a minha mãe. Se não estivesse da forma que está, minha mãe estaria com a perna dela.”

A audiência foi solicitada pela deputada Bela Gonçalves (PSOL), que afirmou que o entulho da demolição das casas tem colocado em risco os moradores que permanecem na região.

Ali, na linha de concessão da VLI, estão sendo feitas demolições de casas para a ampliação do metrô de Belo Horizonte. Entulhos estão sendo deixados nas vias, com grande risco para trabalhadores e moradores. Nós acionamos as empresas para que garantissem apoio emergencial para essa senhora. E as empresas, inicialmente, lavaram as mãos, se esquivaram, depois disseram que dariam um apoio emergencial para a senhora Natalice. E, quando a gente se deparou, a empresa apresentou um documento oportunista, querendo que dona Natalice reconhecesse a culpa pelo que aconteceu, como se fosse ela quem tivesse atropelado o vagão do trem.’’

Segundo Poliane Cristina Furtado, liderança comunitária do Vista Alegre 3, que representa moradores da região afetada pelas obras do metrô, a retirada dos entulhos só aconteceu depois do acidente com dona Natalice.

A empresa disse que o metrô não autorizou a limpeza do entulho devido ao medo de novas ocupações. Então, preferiram deixar o entulho ali, em vez de limpar e prevenir acidentes, sendo que estava claro que isso poderia acontecer. Depois da tragédia com a Natalice, ela teve que perder uma perna para que tomassem providências. Hoje eles limparam todo o local. Se você for lá na obra agora, nem reconhece. Está tudo limpo e cercado, mas só por causa da tragédia que aconteceu.”

As empresas VLI e MRS, além da Metrô BH, foram convidadas, mas não compareceram à audiência

Nota

Em nota, a VLI, responsável pela ferrovia, informou que o valor proposto à família tem natureza de ajuda humanitária e não se relaciona com a responsabilização de nenhuma das partes pelo caso. A empresa reiterou o respeito às comunidades onde atua e afirmou que continuará tomando todas as medidas cabíveis e colaborando com as autoridades competentes.

Já a Metrô BH informou que o entulho das demolições de imóveis para implantação da Linha 2 está em uma área onde é proibida a passagem de pessoas. A nota também informa que a empresa está implantando sinalização em todos os locais onde há risco.

A Metrô BH afirmou que lamenta profundamente o ocorrido e se solidariza com a família da senhora envolvida no acidente. Porém, esclareceu que o fato ocorreu na linha de cargas, fora da área de atuação da empresa, e que a remoção de famílias realizada no projeto metroferroviário não tem relação com as circunstâncias do acidente.

Fonte: Edson Costa/Itatiaia

 

 

 

 

 

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