O afastamento de Ednaldo Rodrigues da presidência da CBF motivou uma reação imediata de 19 das 27 federações estaduais de futebol. Em manifesto conjunto divulgado nessa quinta-feira (15), as entidades pedem ‘estabilidade institucional’, ‘renovação de lideranças’ e ‘descentralização’ no comando da Confederação Brasileira de Futebol.
O documento marca uma ruptura significativa com a gestão de Ednaldo, eleito de forma unânime nas últimas eleições da entidade com apoio maciço das federações. Agora, boa parte dessas mesmas instituições articula por mudanças profundas na estrutura da entidade máxima do futebol nacional.
Nova articulação política
A publicação do manifesto ocorreu nessa quinta-feira (15), logo após o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro afastar Ednaldo Rodrigues do cargo de presidente da CBF. A decisão nomeou o vice Fernando Sarney como interventor , com a missão de convocar eleições ‘o mais rápido possível’.
CBF entra com recurso e pede permanência de Ednaldo Rodrigues como presidente
Diante desse cenário, as federações signatárias afirmam estar comprometidas em ‘construir uma candidatura à Presidência e Vice-Presidências da CBF’ com foco em um novo ciclo. A proposta é por uma gestão ‘mais democrática, mais integrada e mais aberta à participação de todos’.
Clamor por mudanças estruturais
As federações citam no texto desafios antigos do futebol nacional, como a falta de um calendário equilibrado, a necessidade de gramados de qualidade, profissionalização da arbitragem, segurança nos estádios e fortalecimento das competições.
O tom do manifesto também aponta críticas à estrutura atual da CBF, classificada como ‘excessivamente centralizada’ e ‘desconectada das instâncias que compõem o ecossistema do futebol nacional’.
Leia o manifesto na íntegra
MANIFESTO PELA ESTABILIDADE, RENOVAÇÃO E DESCENTRALIZAÇÃO DO FUTEBOL BRASILEIRO
O futebol brasileiro vive um momento decisivo. É urgente enfrentar desafios estruturais que há anos limitam o potencial do nosso futebol. Precisamos de um calendário equilibrado, arbitragem profissionalizada, gramados de qualidade, segurança nos estádios e competições fortalecidas.
Para que isso aconteça, é fundamental garantir estabilidade institucional à CBF. Precisamos virar a atual página de judicialização e instabilidade que há mais de uma década compromete o bom funcionamento da entidade e o avanço do futebol brasileiro.
É também momento de resgatar a autonomia interna da CBF, hoje sufocada por uma estrutura excessivamente centralizada e desconectada das instâncias que compõem o ecossistema do futebol nacional.
Além da estabilidade, o cenário exige uma renovação de ideias, de práticas e de lideranças, bem como a profissionalização definitiva das estruturas de gestão. A CBF precisa ser exemplo de governança, eficiência e transparência — e também precisa voltar a ser a casa de todos que constroem o futebol brasileiro, com um ambiente saudável, inspirador e descentralizado, em que cada um possa contribuir ativamente para a melhoria do esporte que constitui verdadeiro patrimônio nacional.
Unidos com esse propósito, assumimos o compromisso de construir uma candidatura à Presidência e Vice-Presidências da CBF comprometida com um novo ciclo para o futebol brasileiro: mais democrático, mais integrado e mais aberto à participação de todos.
Queremos uma CBF forte, querida por dentro, admirada por fora — e novamente amada por todos que fazem do futebol a alma do nosso país.
Assinam este Manifesto as seguintes Federações:
- Federação Alagoana de Futebol
- Federação Paraibana de Futebol
- Federação Norte-Riograndense de Futebol
- Federação de Futebol do Piauí
- Federação Maranhense de Futebol
- Federação Cearense de Futebol
- Federação Sergipana de Futebol
- Federação de Futebol do Estado de Rondônia
- Federação Paraense de Futebol
- Federação Roraimense de Futebol
- Federação Amazonense de Futebol
- Federação de Futebol do Estado do Acre
- Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro
- Federação de Futebol do Distrito Federal
- Federação Paranaense de Futebol
- Federação Goiana do Futebol
- Federação de Futebol do Mato Grosso do Sul
- Federação Gaúcha de Futebol
- Federação Catarinense de Futebol
Outros processos
A comissão de ética da CBF investiga Ednaldo em duas denúncias distintas. A deputada Daniela Carneiro (União-RJ), responsável pelo pedido de denúncia no TJRJ, também apresentou os documentos de uma suposta falsificação na comissão.
A outra denúncia foi feita pelo vereador Marcos Dias Pereira (Podemos-RJ). O político relata acusações de funcionários da CBF sobre assédios e descumprimento de normas da entidade. O vereador apresentou o mesmo problema para o Ministério Público do Trabalho, mas o processo foi arquivado.
Processo no STF
O Supremo Tribunal Federal tem marcado para o dia 28 de maio um julgamento de Ação Direta de Inconstitucionalidade. O plenário da corte vai se posicionar sobre uma decisão tomada pelo ministro Gilmar Mendes. O processo discute aspectos da Lei Pelé e da Lei Geral do Esporte.
O STF julgará se o Ministério Público pode celebrar Termos de Ajustamento de Condutas (TACs) com entidades esportivas. Foi por meio de um TAC, assinado em 2022, que foi determinada uma nova eleição na CBF. O pleito, realizado neste ano, terminou com vitória de Ednaldo de forma unânime. A determinação do STF pode anular o acordo celebrado em 2022.
Ednaldo na CBF
Ednaldo Rodrigues foi reeleito para mais quatro anos no cargo. No dia 24 de abril, na sede da CBF no Rio de Janeiro, houve a votação. Ednaldo era candidato único ao cargo após a desistência de Ronaldo Fenômeno .
Ednaldo recebeu os votos de todas as 27 federações, além de todos os votos dos clubes das Séries A e B. Além da confirmação de reeleição, foram eleitos oito vice-presidentes: Ricardo Nonato Macedo de Lima, Reinaldo Rocha Carneiro Bastos, Gustavo Oliveira Vieira, Gustavo Dias Henrique, Ednailson Leite Rozenha, Antônio Roberto Góes da Silva, Leomar de Melo Quintanilha e Rubens Renato Angelotti.
A trajetória de Ednaldo Rodrigues no comando da CBF começou em agosto de 2021. Na oportunidade, ele foi nomeado para o cargo de presidente após indicação do Conselho de Administração da entidade, assumindo a presidência interinamente em um momento decisivo para a CBF. Ele foi escolhido para substituir Rogério Caboclo, que havia sido afastado pela Comissão de Ética da confederação após três denúncias de assédio sexual e assédio moral.
Fonte: João Pedro Andrada , Leonardo Parrela – Itatiaia