A volta de atividades ao ar livre e o fim da restrição do uso de máscaras fez com os brasileiros voltassem a conviver com outros problemas de saúde que vão além do coronavírus. Entre elas está a circulação do meningococo – principal bactéria por trás da meningite. Em Minas Gerais, os dados da Secretaria de Estado de Saúde (SES) apontam que o número de casos e mortes pela doença voltou a crescer e já atingiu o maior patamar dos últimos dois anos, mesmo que os registros ainda sejam parciais. Para se ter uma noção da alta, de janeiro a junho deste ano, foram registrados 465 casos no Estado. Em todo o ano de 2021, foram 459. Ou seja, a média mensal de 77,5 casos deste ano é quase o dobro dos 38 de 2021.
Ainda de acordo com o levantamento mais recente SES, até junho deste ano foram 71 mortes pela doença em Minas Gerais. De janeiro a dezembro do ano passado, foram 51 óbitos. Entre os números de 2022, o que chama a atenção são as 28 mortes causadas pelos tipos de meningite pneumocócica e meningocócica, que podem ser evitadas graças ao simples ato de se vacinar com o imunizante que está disponível gratuitamente nos postos de saúde. Ambos os tipos da doença, totalmente evitáveis, representam cerca 21% dos casos de meningite no Estado – 1 em cada 5 casos.
A situação acende um alerta para as autoridades de Saúde em Minas Gerais, onde a cobertura vacinal vem caindo ano a ano, mesmo com a ampliação dos públicos e novas campanhas encampadas pelo Ministério da Saúde. Em 2022, o público atingido pela vacina representa apenas 74% do total, segundo a SES. Em 2019, essa cobertura era de 91% do público com menos de um ano.
Segundo o professor emérito da Faculdade de Ciências Médicas, José Geraldo Leite Ribeiro, é de extrema importância que a população se conscientize sobre a vacinação. “A situação por si só já preocupa em razão da volta da convivência social, que aumenta a transmissão da doença. Agora, com as baixas coberturas vacinais, o cenário é muito preocupante”, avalia.
Quem pode se vacinar
As vacinas contra a Meningite Bacteriana são consideradas a medida mais eficaz e segura para evitar casos graves e sequelas da doença, que incluem amputações, surdez ou cicatrizes e até mortes.
Na rede pública, a vacina pode ser tomada a partir de 6 semanas até os 5 anos de idade. Nas crianças de até 6 meses são necessárias 3 doses, com reforço após 12 meses. Neste ano, por conta do risco da doença ter se ampliado, o Ministério da Saúde ampliou a vacinação para os adolescentes e adultos jovens, que são os principais responsáveis pela manutenção da circulação da doença. A partir deste mês, a vacina meningocócica ACWY começou a ser ofertada temporariamente para adolescentes não vacinados de 11 a 14 anos.
De acordo com o doutor José Geraldo Leite Ribeiro, a vacinação dos adolescentes é muito importante porque, além de proteger os adolescentes, ajuda a evitar a circulação da doença. No entanto, as estratégias para que a vacinação atinja o público necessário ainda patinam.
“Todos os menores de 15 anos podem ser vacinados. Agora, vacinar adolescentes sem uma participação ativa na educação é muito difícil. Querer que um adolescente vá espontaneamente para um posto de saúde é muito difícil, especialmente hoje em dia”, avalia..
Situações especiais
Na cidade de São Paulo, a prefeitura confirmou a morte de uma moradora da Zona Leste por causa da meningite. A mulher, que tinha 42 anos, vivia no bairro da Vila Formosa, que juntamente com Aricanduva, na mesma região, já teve cinco casos confirmados de meningite meningocócica do mesmo tipo C nos últimos dois meses, o que configura uma situação de surto, segundo a classificação da Secretaria Municipal de Saúde.
No município de Extrema, no Sul de Minas Gerais, a situação não chegou a ser considerada um surto, porém, já são duas mortes por meningite confirmadas até agora. Por conta disso, a prefeitura da cidade está realizando um mutirão de vacinação onde até mesmo quem já foi imunizado está recebendo novas doses do imunizante.
Em Belo Horizonte, até o momento, foram confirmados 58 casos de meningite confirmados em 2022. Até maio, a cobertura era de cerca de 62% do público abaixo de 1 ano.
Fonte: Pedro Nascimento/O Tempo