Em meio à gravação de reportagem para uma emissora afiliada à CBS, nos Estados Unidos, uma dupla de jornalistas foi alvejada covardemente por um ex-companheiro de empresa. O motivo do assassino? Pregar uma ideia contra a intolerância, em função de supostos episódios de racismo e homofobia sofridos por ele. Na internet, as imagens viralizaram e são chocantes. A cada novo caso como esse, a sociedade sangra.
Recentemente, me deparei em um debate com minha namorada – futura esposa. Filhos. Nossa discordância não demorou muito a surgir: ter ou não? Em razão de minha idade e da dela, dispomos de tempo para decidir se daremos fruto à nossa descendência. O que mais me assusta, nesse sentido, é a possibilidade de colocar uma criança nesse mundo enlouquecido. Meus esforços poderão não ser suficientes para preservar minha cria dos perigos nos arredores. E aí o sofrimento seria grande demais para suportar.
A raça humana forja monstros todos os dias. O assassino gravou um vídeo do tiroteio e publicou no Twitter. Enquanto apontava a arma para os jornalistas, a dupla, atenta à matéria, sequer percebeu que aqueles seriam seus derradeiros momentos. Confesso que não assisti até o final. Apenas li que, após o primeiro estampido, a reportagem foi substituída por gritos e escuridão. No Facebook, o namorado da repórter assassinada lamentou o ocorrido. Informou que os dois iriam se casar. Plano interrompido pelas ações de um lunático.
Nossa sociedade está doente. Não apenas na ação de criminosos, mas na falta de valores morais. No Rio de Janeiro, o maquinista de um trem não teve pudores em passar por cima do corpo de um homem atropelado por outro coletivo, minutos antes. Agiu assim para evitar que as pessoas se atrasassem em suas atividades. Em Charqueadas, um pai assistiu o assassino do filho se vangloriar do ato funesto. No início do ano, o piloto de um avião encerrou sua depressão levando dezenas de pessoas, junto com ele, para a morte.
Hoje em dia, a vida – nosso maior bem – pouco representa. Estamos acostumados demais em conviver com a morte de indivíduos que amamos. Eu e minha namorada temos muitas conversas pela frente antes pensar em ter um filho. O medo da convivência com o próximo – sem conhecer exatamente suas intenções – nos deixa com um pé atrás. Este medo não é saudável, evidentemente. Não gostaria de senti-lo, mas faz parte do processo. Em suma, precisamos achar um jeito de curar nossa raça. De outro modo, temo pelo pior.
Gabriel Bocorny Guidotti