A Polícia Federal indiciou 39 policiais por participação na operação que deixou 26 mortos em outubro de 2021 em Varginha.

Do total de indiciados, 23 policiais rodoviários federais e outros 16 policiais militares que pertencem ao Bope (Batalhão de Operações Especiais) foram indiciados por homicídio qualificado e tortura.

A informação foi divulgada inicialmente pelo Portal R7 e confirmada pelo g1. A operação envolveu integrantes da PM, inclusive do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope), e de agentes da PRF. em outubro de 2021. Com a quadrilha, que supostamente se preparada para roubar um banco em Varginha, foi apreendido armamento de guerra. Os suspeitos haviam alugado um sítio na cidade próximo ao batalhão da polícia.

O inquérito policial, concluído pela delegacia da Polícia Federal de Varginha no dia 22 de fevereiro, aponta que aproximadamente 500 disparos foram efetivados pelos agentes do Estado e somente 20 disparos foram atribuídos às armas dos suspeitos. Nenhum policial ficou ferido na ação.

O relatório final da Polícia Federal apontou que os criminosos foram surpreendidos com a chegada da polícia e foram alvejados. Ainda conforme a PF, não houve a forte resistência com armas longas por parte dos suspeitos, conforme alegado pelas forças de segurança na época e não existem indícios de que um combate aconteceu.

Conforme o inquérito da PF, “quem tenta se esconder é baleado, quem tenta fugir também é. Ao final, os corpos são retirados para receber irreal socorro e o local conspurcado”.

O relatório da PF também aponta que o caseiro Adriano Garcia, que não tinha nada a ver com a situação, também foi morto.

No relatório, a PF afirma que os fatos investigados, na forma como ocorreram e considerando o envolvimento das personagens que deles participaram, não possuem precedentes na história nacional.

“Por tudo quanto até aqui apurado, não restam dúvidas: todos que ingressaram nas edificações e seus perímetros mais próximos queriam o resultado morte para todos que ali estavam. Há indivíduos que levaram vários tiros provenientes de vários atiradores. Logo, vários queriam as mortes destes. A disposição dos corpos também é clara: a equipe policial foi ‘varrendo’ o perímetro e abrindo fogo em quem estivesse à frente”.

Investigação da PF

O relatório da PF afirma que no dia 31 de outubro de 2021, por volta de 5h, aproximadamente 40 policiais entraram em um sítio no bairro Recanto Dourado, em Varginha (MG) e lá mataram 18 indivíduos que se preparavam para executar um grande roubo na cidade.

Na sequência, um grupo formado por 12 destes policiais rumou para um segundo sítio no bairro Lagoinha, e lá foram mortos mais oito suspeitos.

No relatório, a PF narra as dificuldades encontradas pelos investigadores, já que nenhum membro do bando remanesceu no local com vida e inexistiam testemunhas oculares, salvo os policiais investigados.

A investigação da PF apontou que a investigação começou no mês de agosto de 2021 em Uberaba (MG) e terminou com a operação de 31 de outubro em Varginha. Naquele mês, um policial rodoviário federal recebeu mensagens indicando a possibilidade de um grande roubo que seria executado por um bando criminoso fortemente armado. A inteligência da PRF apurou que o possível roubo seria executado no dia 1º de novembro em Varginha.

Inconsistência em depoimentos de policiais

A investigação da Polícia Federal também apontou inconsistência nos depoimentos dos policiais que participaram da ação em Varginha.

“Ficou patente que o relato dos policiais rodoviários e dos policiais militares foi uma criação fictícia, previamente acertada entre eles, com vistas a elidir a responsabilidade pelos excessos cometidos”.

Conforme a PF, na fantasiosa versão para o ocorrido, consta que os policiais tensionavam uma ação escorreita de promover a prisão de suspeitos quando foram surpreendidos por injusto ataque de arma de fogo. Não restando opção, os policiais revidaram e se sucedeu vigoroso e intenso combate. Ao final, todos os “meliantes” foram abatidos e nenhum policial foi alvejado, vez que a técnica prevaleceu sobre a força. O mesmo relato “inautêntico” foi empregado para descrever nos sítios 1 e 2, aponta a PF.

A perícia da Polícia Federal conseguiu identificar nos locais elementos biológicos de 19 dos 26 mortos em diversos ambientes dos dois locais de crime. A PF afirma que, somados a outros elementos, tem-se um forte indicativo de onde quase todos os mortos foram alvejados por armas de fogo. Os laudos ainda trouxeram considerações que desconstruíram a versão apresentada pelos policiais.

“O que houve no dia 31 de outubro de 2021 nos sítios 1 e 2 foi uma ação desacertada da polícia que, surpreendendo suspeitos que preparavam a execução de grave crime violento, acabou por matar a todos”, aponta a PF.

Adulteração dos locais de crime

O relatório também afirma que os criminosos não dispunham de armas quando as forças policiais entraram nos imóveis e que houve adulteração dos locais de crime por parte dos policiais.

“Apesar dos sinais consistentes de resistência no sítio 2, os vestígios indicaram que os armamentos longos atribuídos àquele local, divulgados em fotografias à imprensa, inclusive a metralhadora calibre .50, teriam sido introduzidos na cena em momento posterior ao confronto. A análise preliminar da sala (de um dos sítios) indicou que o ambiente passou por adulterações deliberadas e não relacionadas com a dinâmica de entrada tática e confronto com eventuais sujeitos”.

O relatório também aponta que disparos de armas de fogo atribuídos aos criminosos também foram adulterados pelos policiais.

“Os consistentes indicativos de que os tiros no muro frontal e lateral foram produzidos depois do domínio da situação, conduzem à conclusão de que foram efetuados pelos policiais, com o possível propósito de simular resistência que não existiu”.

Fonte: G1 Sul de Minas

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