O aumento da oferta de leite e o consumo enfraquecido no mercado final provocaram a segunda queda consecutiva nos preços do leite em Minas Gerais. Conforme os dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), no Estado, o leite captado em maio e pago em junho, registrou média de R$ 2,73 por litro, retração de 4,23%. A diminuição do preço pago ao produtor é considerada atípica para o período de entressafra.
Assim como em Minas Gerais, o preço do leite pago ao produtor também recuou quando considerada a média brasileira. Conforme a pesquisadora do Cepea, Natália Grigol, o preço do leite em junho fechou a R$ 2,64 por litro na média Brasil. O valor representou, portanto, quedas de 3,9% frente ao valor recebido em maio e de 7,4% em relação ao mesmo mês de 2024, em termos reais.
“Apesar de atípica para o período, a baixa nos valores pagos ao produtor era esperada pelos agentes do setor e ocorre em função do aumento da oferta e do enfraquecimento na demanda por lácteos na ponta final da cadeia”, explicou a pesquisadora.
Quanto à oferta, conforme o levantamento, o Índice de Captação do Leite (ICAP-L) subiu 1,13% de abril para maio na “Média Brasil”, superando o crescimento registrado em anos anteriores em muitas bacias leiteiras. “Esse avanço é explicado por uma série de fatores, a começar pelos maiores investimentos dos produtores na atividade, devido a margens mais interessantes no último semestre”.
Enquanto a oferta de leite subiu no campo, o consumo segue enfraquecido no mercado final. Conforme o Centro de Inteligência do Leite da Embrapa Gado de Leite (CILeite), apesar do rendimento real do trabalho e a taxa de ocupação estarem em expansão, favorecendo a massa salarial total da economia, o poder de compra segue limitado pela inflação relativamente mais alta e pelas taxas de juros elevadas.
Os fatores, segundo a avaliação dos pesquisadores da Embrapa, inibem o consumo e aumentam o endividamento das famílias. Desta forma, no varejo houve aumento no valor total das vendas, mas com redução no volume físico, sinalizando, assim, um ajuste no comportamento de compra.
A queda no volume consumido, segundo o Cepea, fez com que as indústrias enfrentassem maior dificuldade em escoar os estoques e pressão dos canais de distribuição. Levantamentos do Cepea realizados com o apoio da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) mostraram quedas nos preços do UHT, muçarela e leite em pó negociados no atacado, indicando, portanto, o estreitamento das margens dos laticínios.
Outro fator que tem interferido de forma negativa no mercado do leite, são as importações. Em maio, houve alta de 8,59% no volume de lácteos importados frente ao mês anterior. Em um ano, o avanço nas compras externas chegou a expressivos 18%.
A tendência para os próximos pagamentos, segundo o levantamento da Embrapa, é de novas quedas nos preços pagos aos produtores pelo litro do leite.
“O segundo semestre inicia carregado de incertezas, mas com tendência negativa para os preços. A produção de leite vem crescendo em ritmo forte e a manutenção de volumes elevados de importação tende a pressionar negativamente os preços. Dessa forma, a ajuda para cotações mais firmes vai depender do consumo”, explicou o relatório produzido pelos pesquisadores e analistas da Embrapa Gado de Leite.
Fonte: Michelle Valverde/Diário do Comércio