O planeta pode estar atravessando uma transformação climática sem precedentes. É o que revela o Relatório Global de Pontos de Inflexão de 2025, produzido por uma rede internacional de cientistas liderada pela Universidade de Exeter, no Reino Unido. O documento, que deverá pautar as discussões da COP30 — marcada para ocorrer em Belém (PA) entre 10 e 21 de novembro —, aponta que os recifes de corais de águas quentes já ultrapassaram seu limite térmico, entrando em colapso devido ao aquecimento global.

Segundo o relatório, o aquecimento global já excedeu os 1,2 °C em relação aos níveis pré-industriais, ultrapassando o ponto de inflexão dos recifes tropicais. Como resultado, esses ecossistemas estão passando por uma morte em massa sem precedentes. Eventos de branqueamento de corais, como os observados entre 2023 e 2025, são os sinais mais evidentes desse processo de colapso.

A situação é alarmante: mesmo se o aumento da temperatura global for limitado a 1,5 °C — como prevê o Acordo de Paris — mais de 99% dos recifes tropicais desaparecerão. Isso tornaria os recifes o primeiro grande ecossistema global a cruzar irreversivelmente um ponto de inflexão climático.

Além de serem habitats de cerca de um milhão de espécies marinhas, os recifes de corais sustentam a vida e a subsistência de quase um bilhão de pessoas em todo o mundo. Eles protegem as costas da erosão, sustentam atividades pesqueiras e movimentam economias locais por meio do turismo. A perda desses ecossistemas afeta especialmente países tropicais e pequenas ilhas, onde a dependência dos recifes é ainda maior.

A crise é agravada por fatores humanos como poluição, sobrepesca e o escoamento de nutrientes para o mar. Embora a mitigação desses estresses locais possa oferecer alguma chance de sobrevivência aos corais, o relatório destaca que, sem a redução da temperatura global para abaixo de 1,2 °C, uma recuperação em larga escala é improvável.

O colapso dos recifes é apenas uma parte de um cenário mais amplo. O relatório também alerta para riscos iminentes envolvendo outros sistemas naturais, como a Floresta Amazônica, as calotas polares da Antártida e da Groenlândia e a circulação oceânica do Atlântico. Os cientistas afirmam que o planeta está se aproximando rapidamente do limite de 1,5 °C de aquecimento, o que pode desencadear reações em cadeia com efeitos irreversíveis em todo o sistema terrestre.

Apesar do tom de urgência, o relatório também apresenta caminhos de esperança. Os cientistas propõem investimentos em “pontos de inflexão positivos” — transformações rápidas e sustentáveis em setores como energia, transporte e regeneração ambiental. A expansão de fontes renováveis, a eletrificação da mobilidade e a restauração de ecossistemas costeiros são exemplos de ações que podem desencadear mudanças benéficas em escala global.

Com a COP30 se aproximando, o documento reforça a necessidade de transformar o atual “ponto de medo” do colapso ecológico em um “ponto de esperança”, por meio de ações concretas e urgentes. Como alertam os autores, esperar a confirmação de que um ponto de inflexão foi cruzado pode ser tarde demais — a única resposta eficaz é agir antes.

Com informações do Metrópoles

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