O uso de coleiras de rastreamento tornou-se uma ferramenta estratégica no manejo e conservação da fauna em Minas Gerais. Os dispositivos, que registram o comportamento e a movimentação de animais silvestres após a soltura, são essenciais para direcionar ações de campo e fortalecer políticas públicas voltadas à biodiversidade.

No Parque Estadual da Serra do Rola-Moça, administrado pelo Instituto Estadual de Florestas (IEF), o monitoramento faz parte de um trabalho contínuo de pesquisa e proteção. A captura dos animais é feita de forma segura e supervisionada por veterinários. Após a sedação, são realizados exames clínicos, coleta de sangue e pesagem, em um processo que dura menos de uma hora. A soltura acontece no mesmo local da captura para minimizar o estresse e maximizar o aproveitamento científico.

O biólogo Joaquim Silva, coordenador do programa de monitoramento, destaca o avanço representado pela tecnologia dos rádio-colares. “Os equipamentos variam em tamanho conforme o porte do animal e enviam dados via satélite quase de hora em hora, permitindo entender padrões de comportamento, deslocamento e áreas de uso”, explica. As coleiras contam com um sistema automatizado de liberação (drop-off), que se desprende do animal após até dois anos, sem causar danos.

Segundo ele, os dispositivos são adaptados ao peso dos animais, correspondendo a no máximo 5% a 6% de seu peso corporal — no caso das onças, apenas 2,6%. “Os animais se adaptam rapidamente, e o dispositivo é resistente à água, vegetação densa e longos períodos de exposição. É a mesma tecnologia usada em projetos nacionais e internacionais”, completa o biólogo.

O estudo tem revelado informações valiosas sobre momentos de repouso, caça e deslocamento dos animais por diferentes tipos de vegetação. Isso permite identificar riscos, como atropelamentos e perda de habitat, além de mapear corredores ecológicos.

“O Parque do Rola-Moça é uma área de Cerrado muito significativa e tem a particularidade de ser um parque urbano. Esse monitoramento reforça nossa estratégia de proteção da fauna nas unidades de conservação e em suas zonas de amortecimento”, afirma Marília Melo, secretária de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável. Para ela, compreender o comportamento de animais em áreas próximas a zonas urbanas é essencial. “Compreender o comportamento dos animais em ambientes próximos da área urbana é essencial para garantir sua sobrevivência e promover o bem-estar animal”, ressalta.

O gerente do Parque, Henri Collet, reforça o compromisso com a integridade física dos animais monitorados. “A captura é feita com segurança e supervisionada por veterinários. Após a sedação, realizamos exames e verificamos possíveis doenças, especialmente pela convivência com animais domésticos. Todo o processo dura, no máximo, uma hora, e a soltura ocorre imediatamente no mesmo local”, explica.

Os dados coletados são integrados a um banco de informações compartilhado com o Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Carnívoros (Cenap/ICMBio), que participa de uma rede de especialistas no Brasil e no exterior. O objetivo é ampliar o conhecimento sobre o comportamento e a adaptação de espécies como o lobo-guará, a jaguatirica e a onça-parda, todas presentes em Minas Gerais.

Além de fornecer subsídios para pesquisas, o monitoramento contribui para o planejamento territorial e o fortalecimento das políticas ambientais. “A ecologia do movimento nos permite ver a paisagem pelos olhos de um lobo, por exemplo. Ao compreender quais áreas eles utilizam e consideram vitais, conseguimos priorizar zonas de conservação e identificar espaços de coexistência entre fauna e atividades humanas”, afirma Joaquim Silva.

O estudo desenvolvido no Parque do Rola-Moça é inédito por ocorrer em uma região sob forte pressão urbana — cercada por rodovias, empreendimentos e atividades de mineração. A iniciativa busca compreender como os animais silvestres desenvolvem estratégias de sobrevivência nesse ambiente desafiador.

Enquanto o monitoramento da fauna avança em Minas, as autoridades alertam a população para a importância de identificar corretamente as plantas cultivadas em casa, evitando o uso de folhas desconhecidas na alimentação ou no preparo de chás. O cuidado com o meio ambiente e a convivência segura com a fauna silvestre também dependem de atitudes conscientes da sociedade.

Com informações do Hoje em Dia

 

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