O governo federal liberou nessa semana mais de R$ 20 bilhões para ministérios e programas públicos, utilizando o que chama de “receitas extraordinárias”, valores que entram nos cofres públicos de forma pontual e fora da arrecadação tradicional, como:

  • Lucros com petróleo (como os do pré-sal)
  • Leilões de concessões (rodovias, aeroportos)
  • Venda de imóveis ou ativos públicos
  • Dividendos de estatais como Petrobras e BNDES

Esse dinheiro ajuda a manter programas como Farmácia Popular, bolsas de estudo, despesas administrativas e até emendas parlamentares. A estratégia, no entanto, tem sido criticada por economistas, que alertam para o risco de dependência de receitas incertas para manter as contas públicas equilibradas.

O problema: despesas obrigatórias crescem e cortes seguem travados

Apesar do reforço no caixa, o governo enfrenta dificuldades para reduzir os gastos fixos, que ocupam a maior parte do orçamento federal. Entre eles estão:

  • Aposentadorias e pensões
  • Salários de servidores
  • Saúde e educação (com pisos constitucionais)
  • Transferências para estados e municípios

Esses gastos são protegidos por lei ou pela Constituição e não podem ser cortados sem aval do Congresso. Com isso, o espaço para ajuste real nas contas é muito limitado.

O arcabouço fiscal e as exceções

O arcabouço fiscal, criado em 2023, define regras para controlar os gastos públicos e evitar o crescimento da dívida. Mas, segundo analistas, o governo tem cumprido essas regras usando exceções e brechas legais, como:

  • Abatimentos de precatórios (dívidas judiciais)
  • Uso de bandas de tolerância para o déficit
  • Contabilização de receitas não recorrentes como se fossem permanentes

Com isso, o déficit previsto para este ano pode ultrapassar R$ 75 bilhões, mesmo com a meta oficial sendo de déficit zero.

O que dizem os especialistas

Economistas, consultores e representantes da indústria defendem que o foco deveria ser o corte de despesas estruturais, e não apenas o aumento de arrecadação. Entre as propostas que ainda não avançaram no Congresso estão:

  • Reforma administrativa (para conter gastos com servidores)
  • Revisão de benefícios previdenciários
  • Mudanças nos pisos de saúde e educação
  • Revisão das regras de programas como seguro-desemprego

Segundo eles, apostar apenas em receitas extraordinárias adia o problema fiscal e compromete a credibilidade do governo.

 

Fonte: Aline Pessanha – Itatiaia

 

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