Pesquisadores da Universidade de Delaware, nos Estados Unidos, desenvolveram um método para produzir de forma sintética uma molécula encontrada na goiaba, que demonstrou potencial no combate ao câncer de fígado. O estudo foi publicado em maio deste ano no periódico científico Angewandte Chemie.
A molécula em questão é a (–)-psiguadial A, conhecida por suas propriedades antiproliferativas. Estudos anteriores já haviam apontado sua eficácia no combate ao câncer hepatocelular, a forma mais comum da doença. No entanto, como a substância está presente em quantidades muito pequenas na fruta, sua extração direta era considerada inviável em escala industrial.
Diante do desafio, os cientistas optaram por desenvolver uma versão sintética da molécula, utilizando o processo conhecido como síntese total de produtos naturais. A técnica consiste em combinar substâncias amplamente disponíveis até formar estruturas químicas idênticas às existentes na natureza.
De acordo com os químicos responsáveis, o novo processo é “barato, escalável e replica perfeitamente as capacidades do composto natural da goiaba”. O líder da pesquisa, o químico William Chain, destaca a importância da descoberta: “A maioria dos medicamentos clinicamente aprovados é feita de um produto natural ou baseada em um. Mas não há recursos naturais suficientes para produzir tratamentos suficientes. Agora, os químicos poderão pegar nossos manuscritos e, basicamente, seguir nossa ‘receita’, e eles mesmos poderão fabricá-la”, afirma.
O câncer de fígado e o potencial do estudo
O câncer de fígado é atualmente uma das principais causas de morte por câncer no mundo. Segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), quase 11 mil novos casos são diagnosticados anualmente no Brasil. Globalmente, a doença ocupa a sexta posição entre os tipos mais comuns de câncer e é a terceira principal causa de morte por tumores malignos.
O oncologista Ramon Andrade de Mello, do Centro Médico Paulista High Clinic Brazil, em São Paulo, reforça a gravidade do quadro: “Globalmente, é o sexto tipo de câncer mais comum e a terceira principal causa de morte por câncer. Antigamente, acreditava-se que o câncer de fígado ocorria principalmente em pacientes com hepatite viral ou doença hepática relacionada ao álcool. No entanto, hoje, as crescentes taxas de obesidade são um fator de risco crescente para o câncer de fígado, principalmente devido ao aumento de casos de excesso de gordura ao redor do fígado”, explica.
A possibilidade de produzir a (–)-psiguadial A em laboratório representa um avanço promissor na busca por novas terapias contra o câncer de fígado. O método criado pelos pesquisadores norte-americanos pode abrir caminho para futuros estudos clínicos e, eventualmente, para a produção de medicamentos mais acessíveis e eficazes.
Com informações do Metrópoles