O mês de agosto de 2025 marcou uma reversão na tendência de aumento das queimadas no Brasil. Segundo dados do Programa Queimadas, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), o país registrou o menor número absoluto de focos de incêndio desde 2019, considerando os registros até o dia 22 de agosto. A queda foi de 59% no total de focos monitorados por satélite em relação ao mesmo período de 2024.
A redução é especialmente relevante por ocorrer durante o auge do período seco, que vai de maio a outubro. Em 2024, o Brasil acumulava 97.742 focos de queimada entre 1º de janeiro e 22 de agosto. Em 2025, o número caiu para 39.740 no mesmo intervalo. Apenas nove das 27 Unidades Federativas registraram aumento no número de focos em comparação ao ano anterior: Amapá (40%), Bahia (18%), Ceará (6%), Paraíba (83%), Pernambuco (52%), Piauí (23%), Rondônia (47%), Rio Grande do Sul (9%) e Sergipe (91%). Desses, apenas Bahia, Piauí e Rio Grande do Sul superaram a marca de mil focos.
Apesar da queda acentuada de 69%, o Mato Grosso voltou a liderar o ranking estadual de queimadas, com 5.760 focos registrados em 2025, frente aos 19.032 do ano passado. Trata-se do segundo melhor resultado do estado na série histórica do INPE, atrás apenas de 2011, quando foram registrados 5.468 focos no mesmo período.
O resultado positivo é atribuído a uma combinação de fatores. De acordo com o Mapbiomas, o retorno das chuvas durante o inverno teve papel fundamental, somado à redução no uso do fogo como método de preparo de solo, especialmente em estados da Amazônia. Ainda segundo o Mapbiomas, o Cerrado foi o bioma mais afetado por queimadas em julho, com 1,2 milhão de hectares queimados — metade da área queimada no país em 2025 até então. Na Amazônia, a área afetada entre janeiro e julho foi de 1,1 milhão de hectares, 70% menor que no mesmo período de 2024, também a menor desde 2019. Os dados do INPE mantêm essa tendência em agosto.
Em São Paulo, a redução de focos chegou a 75% na primeira quinzena de agosto, com 148 ocorrências registradas em 2025, contra 548 no mesmo período de 2024. A queda foi atribuída a melhores condições climáticas e investimentos estaduais em monitoramento e capacitação de equipes de resposta. A Defesa Civil do estado mantém equipes em prontidão desde o início da estiagem.
Apesar da melhora, o estado segue em alerta. Desde a última quarta-feira (20), as regiões centro, norte e noroeste estão classificadas como áreas de risco elevado para queimadas e incêndios espontâneos. O tempo permanece quente e seco, mas há expectativa de alívio a partir deste sábado, com temperaturas mínimas próximas de 15°C e aumento da umidade relativa do ar. Nesta sexta-feira (22), cerca de 50 municípios paulistas registraram umidade abaixo dos 20%, com destaque para Ituverava, no norte do estado, que teve o menor índice, com apenas 11%. A cidade está localizada em uma região produtora de cana-de-açúcar e laranja, fortemente impactada pelo fogo em 2024.
Seca ainda preocupa no Nordeste
Apesar da redução nas queimadas, o avanço da seca segue como desafio em diversas regiões do país. Segundo atualização do Monitor de Secas da Agência Nacional de Águas (ANA), divulgada nesta semana, o fenômeno se intensificou em julho em 14 estados: Alagoas, Acre, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Maranhão, Minas Gerais, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Santa Catarina e São Paulo. Em contrapartida, houve abrandamento da seca no Amazonas e em Sergipe.
A Caatinga nordestina voltou a registrar níveis de Seca Extrema — o segundo pior índice na escala da ANA. Por outro lado, o Amapá e o Mato Grosso continuam livres do fenômeno, e em Roraima a seca deixou de ser observada, graças às chuvas acima da média.
A expressiva queda nos focos de queimadas em 2025 representa um avanço significativo no combate aos incêndios florestais no Brasil, especialmente em um período historicamente crítico. A combinação de fatores climáticos favoráveis e medidas de prevenção começa a surtir efeito, mas o cenário ainda exige atenção, principalmente nas regiões afetadas pela seca, como o Nordeste e parte do Sudeste. O desafio agora é manter a tendência de redução das queimadas sem perder de vista os riscos associados às mudanças climáticas e à degradação ambiental.
Com informações da Agência Brasil