Geólogos de Universidade Estadual Paulista (Unesp) e da Universidade Federal de Goiás (UFG) começaram nessa quarta-feira (9) a fazer um mapeamento de risco na região dos cânions em Capitólio, onde no mês passado, uma rocha se desprendeu e matou 10 pessoas em uma embarcação. É a primeira vez que a região do Lago de Furnas passa por um estudo como este.

Na terça-feira (8), o município, em parceria com o Governo de Minas e várias entidades, lançou o programa “Reviva Capitólio – Viva o Mar de Minas” com intuito de resgatar com segurança as atividades turísticas da região, que sofre com a queda no setor, que é o principal gerador de emprego e renda das cidades às margens do lago.

Estudo

Segundo os geólogos, são duas frentes de trabalho. Pela água, uma equipe de especialistas mapeia os riscos na região dos cânions em Capitólio e do alto, outra equipe de alpinistas escala as pedras para fazer a avaliação. O estudo começou nesta semana e deve ser concluído em até 60 dias.

Na época da tragédia, o Lago de Furnas estava aproximadamente 4 metros mais baixo do que está agora e, segundo geólogos, isso pode ter interferido no rompimento da rocha. Recentemente, há 6 dias, o lago atingiu a cota mínima de 762 metros, que era esperada por anos, o que aumentou o nível da água em cerca de 5 metros.

“O baixo nível da água na ocasião, pode ter interferido sim. A partir do momento que há uma exposição da superfície, existe em consequência, maior desgaste da rocha”, explicou o geólogo da Unesp, Fábio Augusto Alves.

O especialista também explicou que na ocasião do acidente chovia muito na região e, com isso, a cachoeira próxima ao local aumentou consideravelmente de volume e formou uma espécie de refluxo de água, que pode ter aumentado as fraturas na base dos paredões.

“Como disse, o baixo nível do Lago, associado com a quantidade de água de chuva naqueles dias, podem ter gerado o tombamento, uma vez que, a cachoeira em grande volume provoca um processo de circulação em baixo da água, algo como um refluxo, e isso também pode ter causado uma erosão na base do bloco rochoso”, explicou

O Lago de Furnas tem aproximadamente 1.440 quilômetros quadrados de extensão. São mais de 10 pontos turísticos na represa. Dois, incluindo o local da tragédia, seguem interditados até que haja segurança para liberação do acesso.

“Nessa avaliação a agente analisa as estruturas da rocha e o comportamento geotécnico perante um possível movimento do bloco, seja na forma de tombamento ou queda. A partir do que já vimos, boa parte da região tem um alto perigo e diante disso, vamos propor intervenções de um plano de uso que minimize o risco de pessoas no percurso turístico. Vamos propor monitoramento e pontos de contenção, estruturas que segurem determinados blocos em situação de maior perigo”, pontuou Fábio.

“Importante ressaltarmos que risco zero não existe na natureza, isso ninguém vai garantir. O que tem que haver é a consciência de que a exposição das pessoas a um possível evento seja a menor possível”, finalizou o geólogo.

Relembre a tragédia

O acidente ocorreu no início da tarde de um sábado no Lago de Furnas, quando um grupo 10 turistas, a maioria da mesma família, alugou uma lancha para percorrer a região que é rodeada por imensos paredões rochosos. Em um momento de descontração, em que rotineiramente as embarcações ficavam paradas para que as pessoas desfrutassem das paisagens, uma das rochas se desprendeu e atingiu a lancha. Algumas pessoas que perceberam o que ia ocorrer chegaram a tentar avisar aos gritos.

Queda da rocha

O piloto da lancha e também uma das vítimas, Rodrigo Alves dos Anjos, 40 anos, estava na embarcação com seis pessoas da mesma família, outro marinheiro e um casal de namorados.

O passeio familiar, que reuniu pessoas de vários locais, foi programado para ser um dia de descontração, já que eles não se viam desde o Natal, segundo Alessandra Barbosa, sobrinha das vítimas. Todos eles tinham costume de visitar os famosos cânions do Lago de Furnas, exceto o casal de namorados, que fazia o passeio pela primeira vez.

Por lá, as paisagens são deslumbrantes. Por causa do barulho dos motores das embarcações, que são muitas, a movimentação da água, somado ao ruído de turistas e quedas d’água, só mesmo os olhos ficam atentos. Pouco se escuta.

Buscas pelas vítimas

Desde o acidente, ocorrido entre 12h e 13h de sábado, o Corpo de Bombeiros e Marinha do Brasil, iniciaram as buscas pelas vítimas. Oito corpos foram localizados no mesmo dia do acidente. Os dois últimos foram encontrados na segunda-feira (9).

Ao todo, 12 mergulhadores e oito bombeiros trabalharam durante as buscas em Capitólio que foram realizadas até o dia 11 de janeiro, quando foi definido, entre a Polícia Civil e os militares, a suspensão das buscas pelos fragmentos.

Fonte: G1

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