O seguro de veículos em Belo Horizonte é o mais caro do Brasil, após a capital mineira registrar uma alta média de 87% no preço da apólice em 2022, segundo dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Tradicionalmente, o preço do seguro varia de 3,5% a 5% do valor do veículo. E as apólices subiram em todo o Brasil porque os carros tiveram valorização de 12,84%, em média, no território nacional segundo o mesmo IPCA.

O motivo foi a crise dos chips semicondutores causada pela pandemia do coronavírus, que afetou em cheio o mercado de automóveis, com redução de oferta e aumento de preços. E como havia menos carros 0 km no mercado, a demanda por veículos seminovos cresceu muito e eles se valorizaram até mais que os novos, com 13% de alta nos preços segundo a consultoria automotiva Kelley Blue Book (KBB).

Por isso, os seguros ficaram mais caros para praticamente todos os modelos de veículos novos e usados no país, segundo Igor Passos, membro do Sindicato das Empresas de Seguros Privados, de Resseguros e de Capitalização de Minas Gerais (SindiSeg-MG).

“A pandemia fez com que as montadoras parassem a produção dos veículos e das peças. E os carros não saíam de casa, estava todo mundo mais recluso. Então diminuiu a sinistralidade e a compra de veículos, o mercado deu uma desaquecida. Quando a gente retomou as atividades, essa demanda voltou ao normal. Só que a indústria também estava retomando a produção. Então faltou peça, faltou veículo e os preços foram lá em cima”. 

E segundo Passos, alguns carros chegaram a ficar de 35% a 40% mais caros na tabela Fipe, usada como referência pelas seguradoras para calcular o valor do seguro.

“Meu carro custava R$ 70 mil e passou para R$ 110 mil. E como o preço do seguro é calculado sobre uma taxa (de 3,5% a 5% do valor do veículo), ele ficou mais caro. À medida que a indústria foi retomando a produção e o mercado foi se acomodando, com oferta e procura, o valor dos veículos na tabela Fipe veio caindo nos últimos meses. Automaticamente, o preço do seguro também está reduzindo”, justifica.

De fato, o IPCA aponta que o preço do seguro em Belo Horizonte já teve queda de 17% entre janeiro e junho deste ano.

Mas por que o seguro em BH ficou mais caro do que em outras capitais?

Se os veículos ficaram mais caros em todo o país, por que Belo Horizonte teve um reajuste maior no valor dos seguros do que nas outras capitais? Uma das causas foi o aumento expressivo no número de carros furtados (sem uso de violência) na cidade. Em 2022, foram 7.994, contra 5.927 em 2021, alta de 34%.

O índice de veículos roubados (com uso da violência) também subiu na capital mineira, mas em proporção bem menor. Foram 1.563 casos em 2022, contra 1.371 em 2021, um aumento de 14%. Os dados são da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp).

A aposentada Angélica Maria Duarte, de 61 anos, se assustou quando renovou o seguro do Gol modelo 2018 no ano passado. Em 2021, ela pagou cerca de R$ 900. Já em 2022, o valor passou para R$ 1.119. E como o carro se valorizou, Angélica também teve que gastar mais dinheiro no pagamento do Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA), que normalmente tem alíquota de 4% do valor do carro.

“Eu sempre uso o 13º salário para pagar o IPVA e o seguro porque eu sou muito organizada, eu sempre tive em mente que esse dinheiro é para essas despesas. Eu achei que os dois aumentaram demais e espero que ano que vem tenham uma redução no preço já que os carros estão barateando em 2023”, afirma.

Mesmo pagando mais caro, a aposentada não deixa o carro sem seguro. “Eu não abro mão porque o seguro dá uma segurança para a gente, principalmente por causa dos terceiros, não dá para rodar sem seguro. O trânsito é intenso, horrível e imprudente. Então não dá para ficar sem seguro”, completa.

Professor da Escola de Negócios e Seguros (ENS), Renato Gonçalves confirma que a valorização dos veículos e a disparada do número de furtos explicam o aumento de 87% no preço do seguro na capital mineira.

“Todo tipo de seguro é precificado de acordo com o risco que ele oferece para a seguradora que assume. Para o seguro de carro não é diferente. Além da valorização do bem, outros fatores podem influenciar a precificação, como a sinistralidade (índice de acionamento do seguro) ou o quanto cada modelo de veículo tem mais sinistros em determinadas regiões. Por exemplo, um carro pode ter um índice de sinistralidade maior em Belo Horizonte do que em São Paulo. Provavelmente, o mesmo veículo, com o mesmo ano de fabricação, terá o seguro mais caro”, explica.

E o crescimento expressivo no número de veículos furtados em Belo Horizonte é um sinal de alerta para a Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública de Minas Gerais (Sejusp-MG), segundo o especialista em Segurança Pública Luiz Flávio Sapori.

“O furto de veículos retoma um índice preocupante, algo que estava acontecendo em 2016, pior patamar dos últimos sete anos. Trata-se de crime que depende muito da capacidade preventiva e investigativa da polícia. Significa que o aparato policial está perdendo eficácia no controle dessa modalidade criminosa”, avalia.

Ainda segundo o professor, “é preciso fortalecer a atividade de inteligência policial de modo a potencializar o policiamento ostensivo nas áreas com alta intensidade de crimes, assim como o policiamento investigativo na prisão dos criminosos mais contumazes nesse crime”.

Procurada, a Sejusp-MG não informou os motivos que fizeram o número de veículos furtados subir tanto em Belo Horizonte em 2022.

Veículos furtados em BH

2023 (1º semestre) – 4.527
2022 – 7.994
2021 – 5.927
2020 – 5.396
2019 – 5.691
2018 – 6.344
2017 – 7.690
2016 – 8.458

Veículos roubados em BH

2023 (1º semestre) – 667
2022 – 1.563
2021 – 1.371
2020 – 2.027
2019 – 2.354
2018 – 4.092
2017 – 7.210
2016 – 7.891

Cidades com maior reajuste no valor do seguro automotivo em 2022

1º – Belo Horizonte (MG) – 87,92%
2º – Curitiba (PR) – 67,72%
3º – Fortaleza (CE) – 53,25%
4º – Porto Alegre (RS) – 47,54%
5º – Brasília (DF) – 45,69%

Fonte: O Tempo

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