O Dia Nacional da Vacinação, celebrado no dia 17 de outubro, chega em 2022 com uma nota de preocupação. Dados parciais do Ministério da Saúde mostram que a cobertura vacinal para os imunizantes oferecidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) não chega a 40,6% neste ano.

Há dez anos, em 2012, ela alcançava 77,3%. Entre as vacinas com coberturas insatisfatórias, estão as de doenças gravíssimas, como a poliomielite, que ameaça um retorno ao país, segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), e a meningite, que causa surtos em algumas regiões.

Desde que foram criadas, em meados do século 18, as vacinas frearam incontáveis mortes e sequelas por diversas doenças — só no primeiro ano de vacinação contra a Covid, pesquisadores estimam que 20 milhões de mortes tenham sido evitadas ao redor do mundo, de acordo com um estudo divulgado na revista científica “The Lancet”. Mas, apesar de ser um consenso científico que vacinas salvam vidas, os imunizantes nunca foram um ponto pacífico na sociedade brasileira e têm um histórico de polêmicas, como se viu com as fake news que tentaram descredibilizar as vacinas contra a Covid-19.

“As vacinas nunca foram um ponto totalmente pacífico. Na época da vacina da febre amarela, por exemplo, já existia movimento antivacina muito forte. Sempre houve um histórico de resistência às vacinas. A crise de hoje é diferente, porque tem o componente de uma sociedade globalizada e da velocidade com que a informação e a desinformação circulam”, reflete a professora Ana Paula Fernandes, uma das coordenadoras do Centro de Tecnologia em Vacinas (CT-Vacinas) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que desenvolve uma vacina 100% brasileira contra a Covid-19.

Antes mesmo da célebre Revolta da Vacina, que ocorreu em 1904 contra a vacinação obrigatória da varíola, os imunizantes causavam desconfiança em parte da população. Há relatos do século 19 sobre mães que até escondiam os filhos embaixo da cama quando o vacinador batia à sua porta e de informações falsas espalhadas deliberadamente por políticos contra os imunizantes — um juiz chegou a espalhar boatos de que o presidente da Câmara Municipal de Paracatu, no Noroeste de Minas, queria utilizar imunizantes para matar a população, relembram arquivos da Agência Senado. A pandemia representou uma enxurrada de esclarecimentos científicos sobre a vacinação, e a professora Ana Paula Fernandes pondera que, mesmo assim, é importante manter a comunicação sobre os benefícios da vacinação para além da crise da Covid-19.

Para vencer a resistência e a apatia de parte da população em se vacinar ainda hoje, é necessário haver uma comunicação pública mais eficiente, cobra a professora Ana Paula Fernandes. “Se Maomé não vai à montanha, ela vai a Maomé. Um aspecto muito importante é a informação dos órgãos oficiais, principalmente do Ministério da Saúde, sobre a importância da vacinação. Populações mais jovens felizmente não experimentaram um período de doenças como difteria e paralisia infantil, que foram controladas pela vacinação. A importância da vacina ficou um pouco distante da vivência dessa população”, diz a professora.

Ela enfatiza a necessidade de reforçar uma comunicação constante sobre a importância das vacinas, por exemplo, que lembre as consequências da falta de imunização. Para isso, as escolas são um ambiente essencial, já que as próprias crianças podem incentivar a imunização na família. Uma presença mais atuante de agentes de saúde em todo o país, como a verificação dos cartões de vacinação em cada bairro, também pode ser uma peça fundamental na recuperação dos índices de vacinação. “É um quadro que, se não for revertido, fará a população e o próprio governo pagarem um preço elevado”, conclui a professora.

Fonte: O Tempo

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