Uma investigação sigilosa conduzida pela Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE) revelou que o Comando Vermelho (CV) buscava adquirir drones equipados com câmeras térmicas, tecnologia capaz de detectar a presença de policiais em áreas de mata e durante a noite. As conversas interceptadas com autorização judicial indicam que criminosos do Complexo da Penha se preparavam para um novo nível de guerra urbana.

O material integra o conjunto de provas que motivou a megaoperação policial deflagrada na última terça-feira (28), considerada a mais letal da história do Rio de Janeiro, com mais de 130 mortos e 113 presos.

Tecnologia para mapear a polícia

Nas mensagens monitoradas, um integrante da facção reclama que o drone utilizado não possuía visão noturna. Em resposta, outro criminoso defende a necessidade de atualização dos equipamentos: “A gente tem que se adequar à tecnologia.”
Segundo fontes da investigação, o objetivo do grupo era ampliar o sistema de vigilância já existente nas favelas, composto por dezenas de câmeras e monitoradores armados. A visão térmica permitiria localizar agentes de segurança em áreas fechadas, justamente onde ocorreu a concentração dos confrontos durante a operação desta semana.

Treinamento militar e uso de drones com granadas

A sofisticação da facção também envolve treinamento militar e adaptação de armamentos. O ex-cabo da Marinha Rian Maurício Tavares Mota, preso desde 2024, é apontado como o responsável por ensinar os criminosos a adaptar drones para lançar granadas.
Em diálogos interceptados pela Polícia Federal, ele descreve o funcionamento dos dispositivos usados em conflitos armados: “Precisamos comprar o dispensador. O drone libera a granada com o cabo segurando o pino…”
O governador Cláudio Castro (PL) confirmou que explosivos lançados por drones foram usados pelos criminosos para tentar impedir o avanço das forças de segurança.

“Narcoterrorismo”, diz polícia

Durante coletiva nessa quarta-feira (29), o secretário de Polícia Civil, Felipe Curi, afirmou que o crime organizado no Rio já atua com poder bélico e inteligência comparáveis aos de zonas de guerra: “Não é mais segurança pública. É guerra.”
Curi também disse que, entre os mortos, apenas quatro eram policiais, e anunciou uma investigação por fraude processual contra moradores que retiraram roupas camufladas de corpos levados à Praça São Lucas.

Comando e brutalidade

O chefe da facção na Penha, Edgar Alves de Andrade, conhecido como “Doca”, segue foragido. Ele é apontado como o líder responsável por autorizar execuções e guerras territoriais para expandir o domínio do CV.
Já Juan Breno Malta, o “BMW”, preso em operações anteriores, é acusado de comandar torturas e treinamentos de executores. A denúncia do Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) inclui vídeos que mostram moradores sendo arrastados, amarrados, espancados e submetidos a banhos de gelo como forma de punição. A Justiça descreve esses atos como domínio armado com uso de terror psicológico sobre a população local.

Expansão e logística nacional

De acordo com levantamento da Polícia Militar, o Comando Vermelho já controla 1.028 comunidades no estado do Rio e mantém uma rede interestadual que abastece o tráfico com armamento pesado vindo das fronteiras do Norte do país.
A facção também oferece refúgio e status a criminosos de outros estados, especialmente àqueles que mataram policiais. O movimento já foi confirmado em casos ocorridos no Pará.

A investigação, que ainda corre sob sigilo, reforça o avanço tecnológico e a capacidade de organização do Comando Vermelho, evidenciando o desafio crescente das forças de segurança no enfrentamento ao crime organizado no Rio de Janeiro.

Com informações do Metrópoles

 

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