A estudante Carolina Arruda, moradora de Bambuí, voltou a se pronunciar nesta quarta-feira (27) sobre seu estado de saúde após um tratamento experimental realizado no início do mês. Diagnosticada com neuralgia do trigêmeo, condição considerada uma das dores mais intensas que existem, ela relatou que o quadro clínico não apresentou melhora e, em alguns aspectos, até piorou.
Além do impacto físico, Carolina afirmou que está emocionalmente esgotada e anunciou que pretende reduzir sua presença nas redes sociais para se dedicar à recuperação da saúde mental.
Tratamento sem resultado e complicações
A jovem passou por um procedimento experimental que incluiu cirurgias e sedação profunda, com o objetivo de “reiniciar” o cérebro e tentar restaurar a resposta do organismo a determinados medicamentos. Apesar da expectativa, a dor permaneceu inalterada e até se intensificou em um dos lados do rosto.
“A dor tá a mesma coisa de antes. Eu tenho a mesma dor basal, que fica o dia inteiro, e tenho a mesma quantidade de crises durante o dia, que são umas 30 em média. Só que surgiu um problema durante as cirurgias: meu rosto ficou mais sensível internamente e isso acaba gerando novos gatilhos. Na realidade, deu uma pequena piorada”, relatou Carolina.
Durante a internação, a estudante também desenvolveu um trombo no pulmão, consequência da trombofilia, condição que aumenta o risco de formação de coágulos. Ela já havia sofrido dois AITs (acidentes isquêmicos transitórios), semelhantes a AVCs temporários.
Sobre a sedação profunda, Carolina afirmou que o processo foi tranquilo, mas sem impacto nas dores: “Foi como se eu tivesse dormido e acordado minutos depois. Mas a dor não mudou.”
Doença rara e de difícil controle
A neuralgia do trigêmeo, também conhecida como “doença do suicídio”, é uma condição neurológica rara que afeta o nervo trigêmeo, responsável por transmitir sensações do rosto ao cérebro. Segundo o neurocirurgião Bruno de Castro, trata-se de uma das dores mais intensas da medicina, com crises que podem ser desencadeadas por ações simples como falar, mastigar, tocar o rosto, sentir vento ou variações de temperatura.
A condição atinge menos de 0,3% da população mundial. O caso de Carolina é ainda mais raro, com dor contínua nos dois lados do rosto.
Interrupção de cirurgias e foco no conforto
O médico Carlos Marcelo Barros, coordenador da equipe de Medicina da Dor responsável pelo acompanhamento de Carolina, informou que quase todas as linhas tradicionais de tratamento já foram tentadas, algumas mais de uma vez. Durante a última internação, foram utilizados recursos como infusão de cetamina e crioablação do nervo trigêmeo direito, mas sem sucesso.
Diante do insucesso das abordagens invasivas, a equipe optou por suspender novas intervenções desse tipo.
“Nossa prioridade é preservar conforto, a funcionalidade possível e a vontade expressa da paciente, evitando procedimentos que tragam risco e sofrimento sem expectativa razoável de benefício”, explicou o médico.
O tratamento segue agora com ajustes de medicação, suporte psicológico, manutenção da bomba de infusão intratecal e procedimentos pontuais, apenas quando estritamente necessários.
Saúde mental como prioridade
Após o esgotamento emocional causado pelo agravamento do quadro clínico, Carolina afirmou que não pretende realizar novas cirurgias e vai se afastar temporariamente das redes sociais.
“Preciso de tempo, espaço e de me priorizar. Não é que eu não queira responder ou esteja ignorando as pessoas, mas não é o momento de ser cobrada”, disse.
Para buscar alívio emocional, Carolina viajou para Caraguatatuba, no litoral paulista, onde a família possui um apartamento.
“Resolvi vir pra praia pra tentar descansar. Minha busca é dar um tempo pra minha saúde mental, que está conturbada”, contou.
Com o afastamento, Carolina espera se recuperar emocionalmente, enquanto segue convivendo com uma condição que desafia os limites da medicina e da resistência humana.
Com informações do G1 Centro-Oeste