Presa preventivamente em Minas Gerais após ser deportada dos Estados Unidos, Katiuscia Torres Soares, 34, tinha objetivo de criar uma “seita religiosa”. A avaliação é apresentada pela advogada Gladys Pacheco, que representa 20 vítimas — 16 mulheres, dois homens e duas crianças.

Entre os crimes relatados pelas vítimas, conforme a advogada, estão: tráfico de pessoas, charlatanismo, extorsão religiosa, estelionato religioso, calúnia, injúria, redução à condição análoga à escravidão e favorecimento da prostituição ou outra forma de exploração sexual.

“Ela pregava doutrinas, ensinamentos, ideologias e acreditava ser um mecanismo de comunicação de uma entidade que ela denominava de “a voz””, afirmou a advogada. Segundo Gladys, Kat Torres afirmava que “essa “voz” — entidade com quem dizia se comunicar — poderia prever o futuro”.

A partir disso, segundo a advogada, Kat manipulava as clientes, dizendo ser capaz de indicar “os melhores caminhos, podendo, inclusive, alterar acontecimentos predestinados mediante consultas e rituais”.

Quem fosse contra o que dizia Kat Torres era exposto nas redes sociais, com “imputação de fatos inverídicos e difamatórios”, acrescentou a advogada. A atriz e modelo Yasmim Brunet passou por essa situação. Ela afirma ter sido alvo de retaliação após “tentar ajudar” uma jovem mineira que se aproximou de Kat e era procurada pela família.

Uma das vítimas defendida pela advogada é o arquiteto Antonio Isuperio, de 40 anos, ativista em defesa de direitos humanos. Ele recebeu ameaças de morte após publicar um vídeo denunciando Kat por “charlatanismo”.

A reportagem não conseguiu contato representantes da defesa de Kat Torres. O espaço permanece aberto para que ela se posicione sobre as denúncias.

Prisão

Kat Torres foi presa na sexta-feira (18) a partir de ordem de prisão preventiva (sem prazo) decretada pela 5ª Vara Federal de São Paulo. O pedido se baseou no artigo 149 da lei 2.848, que trata do crime de submissão de pessoas a condições análogas à escravidão.

O documento ainda solicitou a quebra de sigilo de dados telemáticos e telefônicos da influencer, assim como a apreensão de aparelhos e documentos que estejam em posse de Kat Torres.

A influencer estava em um voo com deportados que chegou no Aeroporto Internacional de Belo Horizonte, em Confins. Ela não designou advogados e é assistida pela Defensoria Pública de União (DPU).

Kat deu entrada no sábado (19) no Complexo Penitenciário Feminino Estevão Pinto, em Belo Horizonte, segundo a Secretaria de Justiça e Segurança Pública (Sejusp) de Minas Gerais.

O Ministério Público Federal (MPF) colhe depoimentos de vítimas de forma sigilosa. “Qualquer pessoa que tenha sofrido danos pelas condutas da ex-modelo, já amplamente noticiadas na imprensa, pode procurar o MPF para formalizar seu relato, com a garantia de preservação de sua identidade e sem necessidade de comparecer a uma unidade da instituição”, informa a instituição.

O caso

Kat Torres é influenciadora digital e dizia ser guru espiritual. Ela começou a ser investigada depois que parentes e amigos passaram a procurar uma jovem que foi levada para os Estados Unidos para morar com ela. A suposta vítima deletou as redes sociais e aplicativos de mensagens e interrompeu todo contato com a família.

O caso originou um boletim de ocorrência por suspeita de tráfico humano e uma campanha nas redes. Outros relatos semelhantes foram divulgados em uma página na internet

Fonte: O Tempo

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