Vinte anos depois do seu primeiro discurso na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou ao púlpito da entidade, agora para fazer uma espécie de reapresentação das credenciais do Brasil diante das 193 nações que compõem a organização.

Tradicionalmente, cabe ao presidente brasileiro inaugurar a sessão de debates de alto nível na organização.

Em sua fala, que durou cerca de 21 minutos no total, Lula defendeu que a desigualdade deve ser o objetivo síntese da agenda.

É preciso reincluir o pobre nos orçamentos nacionais e fazer os ricos pagarem impostos proporcionais a seu patrimônio“, declarou.

O presidente brasileiro prestou condolências às vítimas de tragédias no Marrocos e Líbia, lembrando ainda das chuvas no Rio Grande do Sul.
Lula repetiu que o “Brasil está de volta“, sendo interrompido por aplausos nesse momento de sua fala.

Lembrou ainda que a fome foi tema central de seu discurso há 20 anos e que hoje ela atinge 735 milhões de pessoas, ao mesmo tempo em que os maiores bilionários acumulam mais riqueza do que os 40% mais pobres do mundo.

Precisamos vencer a resignação que nos faz aceitar tamanha injustiça como fenômeno natural“, afirmou. “Para vencer a desigualdade, falta vontade política daqueles que governam o mundo.

O discurso cumpriu as expectativas“, afirma Fernada Magnotta, professora de Relações Internacionais na FAAP (Fundação Armando Alvares Penteado).

A principal mensagem, além de ‘Brazil is back’ [o Brasil está de volta], é a ideia de que o Brasil tem ambições globais e quer propor uma reorganização das estruturas de governança global“, afirma.

Ela cita que Lula passou por assuntos inevitáveis, como crise climática e pobreza, mas vê dois objetivos na fala. O primeiro é imprimir um tom reformista ao advogar pela busca de alternativas para um mundo em transformação — “Não à toa falou dos Brics”, observa, citando o grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, lembrado por Lula em seu discurso.

Lula tentou o tempo todo vincular o que ele chamou de um mundo em múltiplas crises simultâneas à desigualdade“, observa Magnotta.

É como se o Brasil tivesse tentando promover uma revisão do agenda setting [dos temas a serem tratados]. Enquanto todo mundo está discutindo com centralidade temas geopolíticos como Ucrânia, Lula vai tentar vincular a crise da democracia, a crise da paz à desigualdade.

 

Fonte: BBC

 

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