Cientistas da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), no interior de São Paulo, desenvolveram um dispositivo capaz de detectar nitrito de sódio (NaNO₂) em amostras de bebidas como água mineral, vinho e suco de laranja. O aditivo, amplamente utilizado na conservação de carnes ultraprocessadas, pode formar compostos cancerígenos em determinadas condições. O estudo foi publicado em agosto na revista científica Microchimica Acta.

A pesquisa foi conduzida pelo Laboratório de Sensores, Nanomedicina e Materiais Nanoestruturados (LSNano), que tem como foco o desenvolvimento de soluções tecnológicas de baixo custo, com valor agregado e respeito ao meio ambiente. Desta vez, os cientistas utilizaram cortiça — material natural usado em rolhas de vinho — como base para a criação do sensor.

Segundo o coordenador do estudo, Bruno Campos Janegitz, a motivação veio da preocupação com a presença de compostos potencialmente cancerígenos em bebidas. “É uma forma simples, rápida e acessível de detectar o NaNO₂ e garantir a qualidade e a segurança do consumo dos líquidos”, afirmou em comunicado.

Os autores ressaltam que a detecção do nitrito de sódio, especialmente em vinhos, tem grande importância no controle de qualidade. “A detecção de NaNO₂ em bebidas, especialmente em vinhos, é importante para o controle de qualidade, uma vez que seu uso não é legalmente permitido no Brasil e na maioria dos países”, destacam no artigo.

Para construir o sensor, os pesquisadores utilizaram laser para modificar a superfície da cortiça, transformando-a em grafeno — um material altamente condutor de eletricidade, essencial para detectar o nitrito, que possui um comportamento eletroquímico de oxidação bem conhecido.

“Esse processo é sustentável, dispensa reagentes tóxicos e resulta em um material altamente condutor, o que é essencial, pois o nitrito possui um eletroquímico de oxidação bem conhecido. Então, precisamos de um sensor muito condutor para que detecte o composto”, explicou Janegitz.

Após a formação do grafeno, os cientistas aplicaram um spray à prova d’água para evitar a penetração de líquidos, além de usar esmalte de unhas para delimitar a área sensora. Em seguida, o dispositivo foi levado ao forno a 40°C por 30 minutos para secagem e aperfeiçoamento do material.

Os testes foram realizados com amostras de água, vinho e suco de laranja, diluídas em solução com sais simulando a presença de nitrito. O sensor apresentou desempenho satisfatório, sendo capaz de identificar concentrações relevantes para a segurança alimentar e ambiental.

O dispositivo ainda está em fase de validação laboratorial e passa por ajustes de design para uso prático. A inovação representa um avanço no monitoramento da qualidade de bebidas e reforça o papel da ciência nacional no desenvolvimento de soluções acessíveis, sustentáveis e voltadas à saúde pública.

Com informações do Metrópoles

 

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