O Brasil acumula diagnósticos sobre seus problemas sociais há décadas. Todo cidadão tem algo a dizer sobre política, pobreza, desigualdade. Mas, entre críticas e constatações, o tempo passa — e os problemas permanecem. Em pleno século XXI, o país ainda convive com dados alarmantes: cerca de 100 milhões de brasileiros vivem sem acesso a saneamento básico; 33 milhões não têm água potável; quase 11 milhões são analfabetos; e 6 milhões sequer têm banheiro em casa. Existem muitos outros milhões sem outras condições sociais básicas.

Enquanto isso, governos divulgam pesquisas que apontam avanços, embora grande parte desses resultados seja fruto de processos naturais de modernização e não de ações coordenadas ou políticas públicas efetivas. Os ganhos estruturais são lentos, fragmentados e, muitas vezes, ficam concentrados em determinados grupos privilegiados.

É nesse cenário que se propõe uma iniciativa incomum de uma cruzada nacional, com prazo, estrutura e envolvimento efetivo da sociedade. Mas deveria ser uma tomada de posição muito séria e não como ocorreram até hoje, mais como propaganda para garantir a reeleição de governos do que para solucionar os problemas de fato.

O ponto de partida deve vir da imprensa. Cada grande órgão de comunicação, jornal, revista, emissora de rádio e TV, deve assumir, com seriedade e responsabilidade, um único problema social e liderar sua abordagem. A ideia é que cada veículo escolha uma causa, investigue suas raízes, aponte de onde os governos cortem gastos para investir nesses projetos, proponha soluções práticas e acompanhe a implementação de cada etapa. Um jornal pode adotar o combate ao analfabetismo. Uma revista pode se dedicar ao saneamento básico. Uma rede de rádio pode tratar do acesso à água potável e assim sucessivamente, até por veículos de comunicação menores, abordando problemas menos graves.

O compromisso deve ser público, técnico e imparcial. E o prazo, definido. As propostas precisam ser apresentadas com metas claras e mecanismos de acompanhamento e o prazo pode ser de até uma, duas décadas. Essa ação articulada pode ser o primeiro passo para engajar sindicatos, igrejas, ONGs, associações e a própria população em torno de um pacto coletivo por melhorias reais.

Mas é importante lembrar que não haverá avanço estrutural sem escolhas difíceis. O Congresso Nacional precisará reduzir regalias. Os governos terão que otimizar seus gastos. E os recursos públicos devem, de fato, ser redirecionados para as áreas essenciais da infraestrutura social, com foco em saneamento, educação básica de qualidade e acesso à água.

A transformação do país exige além de vontade política. Exige organização, prioridade nos investimentos e participação ativa da população. Não se trata de utopia, mas de compromisso com o básico. O tempo da análise já passou. É hora de ação.

 

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