Hoje consegui transformar um dia normal em um momento muito especial.

Preciso agradecer à tecnologia dos tempos atuais, que com as plataformas de redes sociais proporcionam a milhões de pessoas o acesso aos fatos do presente, as lembranças de um passado fantástico e um futuro de histórias que nunca param de acontecer.

Conversei com um velho amigo.

Digo velho, não pela natureza da idade, mas pela coleção de vivências que estão registradas nas saudades de uma época espetacular: José Afonso de Alencar Mourthé, ou simplesmente Zé Afonso!

Conheci Zé Afonso num final de semana repleto de magia, quando saí de Belo Horizonte para acampar numa região próxima à cidade de Formiga, às margens do grande lago de Furnas.

Não posso dizer que foi um passeio comum aos jovens da minha época, pois a aventura era parte fundamental daquela oportunidade.

Lembro de chegar a uma fazenda banhada por águas limpas, cristalinas onde eucaliptos balançavam ao vento que vinha de todos os lados. Uma casa rústica, (sede da fazenda) servia como uma espécie de “casa de apoio”, tinha um velho curral, vegetação exuberante e muita paz.

Naquele lugar armamos nossas barracas coloridas, montamos uma pequena estrutura com fogareiros, lampiões, madeira para uma pequena fogueira e alguns bons planos para aproveitar o final de semana prolongado. Cerveja (muita por sinal), vinho, linguiça e carne para o churrasco, panelas para um macarrão esperto faziam parte do cenário.

O número de amigos tornava aquele acampamento uma autêntica comunidade de gente à toa, como eu naquele momento.

O dia passou rápido e cada um procurou aproveitar o contato com a natureza à sua maneira. Homens com shorts, mulheres com biquínis, cerveja gelada, churrasquinho, violão e a sensação de estar no paraíso.

Lembro que ao cair da noite, fomos visitados por um homem de estatura baixa, óculos de aro fino, cabelos crespos, pele morena, sorriso tímido que se mostrava um gigante em simpatia: era Zé Afonso, proprietário da fazendo e nosso “anfitrião”.

Na verdade, ficamos um pouco inibidos e receosos, porque não fomos convidados para o local e muito menos pedimos permissão para entrar. Apenas pulamos a cerca, abrimos a porteira e entramos para montar o acampamento no local escolhido ainda à distância.

É uma verdade, também, que nos sentimos à vontade com a recepção do Zé Afonso, que fez questão de nos deixar muito à vontade durante todo o tempo em que ficamos entre vinhos, perfumes, cerveja, churrasco e um maravilhoso contato com a natureza.

Esse foi o primeiro de muitos contatos com o Zé Afonso, pois “abriu a porteira” para outros finais de semana inesquecíveis.

Mas, notei que a cada vez que saia de Belo Horizonte para acampar naquele lugar, sempre encontrava novidades. É, que a artéria empreendedora de Zé Afonso, já mostrava a motivação para transformar aquela modesta fazenda num empreendimento que marcou a história da região.

Com pequenas e excelentes inserções, Zé aparelhava o lugar e conquistava cada um dos visitantes. Nunca consegui disfarçar o prazer em estar com aquelas pessoas, naquele lugar, com uma energia fantástica e uma vontade louca de continuar voltando para brincar com a natureza que nos foi colocada à disposição.

Lembro de certa vez, chegar um pouco mais tarde que meus companheiros e, ao encontrá-los, me deparei com as pessoas no entorno de um grande buraco próximo ao curral onde um garrote assava no rolete. Era uma cortesia do Zé Afonso, que nos presenteou com um churrasco maravilhoso.

Fora as curiosidades que sempre apareciam, a maior e melhor de todas foi encontrar Zé Afonso em Belo Horizonte na agência de publicidade onde trabalhava.

Ele foi nos levar seu projeto de transformar a fazendinha num complexo de turismo arrojado. Contava com um clube campestre (totalmente aparelhado), um loteamento muito bem distribuído e planejado, pontos de atividade náutica com infraestrutura, hotel/pousada, chalés para fins de semana e área de camping com pontos de luz, churrasqueiras e área de lazer, bateria de banheiro e coisas de um mundo ainda desconhecido por quem morava na capital mineira.

Zé Afonso nos incluiu em seus planos e faríamos o lançamento do primeiro Clube de Lazer Total no entorno da represa de Furnas.

É claro que existiam pequenos empreendimentos extremamente modestos e acanhados.

Mas Zé Afonso queria algo novo, um produto capaz de seduzir famílias inteiras a se deslocar por 192 km de Belo Horizonte até seu clube e mais; atrair visitantes de São Paulo, Rio de Janeiro e qualquer outro lugar do país.

Como me lembrei recentemente, a expressão “O Mar de Minas”, que hoje é usada ostensivamente na região, foi uma ideia do Zé Afonso. Na verdade, essa era uma denominação usada para a represa de Três Marias, que é bem menor que Furnas.

Os mistérios e segredos de Furnas foram surgindo a cada encontro com Zé Afonso e alguns de seus assessores que o acompanhavam.

Dentro da agência, o nome FURNASTUR simbolizava mais o que representava o projeto do Zé Afonso, ou seja, Furnas turismo. Mas faltava um complemento que deveria revelar a alma do empreendimento, o espírito do Zé em comunhão com aquela região.

Foi nesse momento, que um criativo da agência (Márcio Vicente) sugeriu o seguinte slogan: Furnastur. A Extensão Azul da Liberdade!

O motivo? O lugar é lindo, onde o céu azul e as águas azuis se encontravam no horizonte ampliando ainda mais a beleza do local e principalmente: a liberdade de ter um espaço único para fazer o que as vontades mais secretas pudessem ser liberadas.

O empreendimento teve seu lançamento feito nas TVs, rádios, jornais, circuito de cinemas, folhetos e outras formas de comunicação. Também foi produzido um audiovisual mostrando e apresentando a relação de investimento/resultado, etc num verdadeiro show de ousadia e confiança num sonho que estava se realizando.

Assim como no começo de tudo, Zé Afonso não poupou criatividade e transformou o empreendimento num “Case”, quando abriu as portas da criatividade para gerar oportunidades para o lazer total alcançando todas as “tribos”.

As promoções eram as mais ousadas e lembro com saudades de assistir ao show da banda 14 Bis, no início de sua estrondosa carreira musical, vi também Sá & Guarabira e suas canções no restaurante do clube, vi Bruna Lombard (musa da época) desembarcar no clube para o fascínio da plateia masculina e também, 1º Enduro de Furnas, quando apenas 5 competidores dos mais de 100 inscritos concluíram a prova, Campeonato Aberto de Windsurf (com a presença de campeões nacionais e internacionais), provas de motonáutica, Rallye de Lanchas, ciclismo, cavalgadas, as mais variadas atividades esportivas, restaurante gourmet, bares, lanchonetes, discoteca (que atraia a moçada de cidades próximas), teatro com peças infantis e pasmem: um aeroporto… Realmente, uma extensão azul de liberdade total.

Zé Afonso continua um apaixonado pela região, mora no balneário criado por ele, e não tem a menor ideia da importância da sua vida para milhares de pessoas, como eu!

Qualquer outra história que possam contar sobre o Zé será sempre bem-vinda, porque ele não é homem de uma história só.

Aliás, com certeza no momento ele deve estar pensando em outras grandes e emocionantes histórias que dão inveja em muitos empreendedores, que possivelmente mostram certa tristeza por ver a alegria e o sucesso do Zé Afonso…Porque não foi fácil, mas ele fez de verdade aquilo que hoje eu agradeço sem nunca me esquecer de nada.

Obrigado Zé! Você é a melhor parte das minhas lembranças!

Sobre o autor:

 Léo Junqueira é daqueles publicitários da época romântica, quando a comunicação ainda era feita com base no talento criativo. Além de um apaixonado pela região de Furnas, participou do processo inicial do desenvolvimento econômico/turístico da região, que hoje pode ser considerado um complexo de lazer no Estado. Como publicitário foi um dos responsáveis pelo lançamento do Furnastur, Clube Náutico Formiguense e FIC, (Furnas Iate Clube). Atualmente é consultor de marketing, escritor e colunista, compositor e violeiro.

 

COMPARTILHAR: