Não é simples ser plenamente jornalista e plenamente político. Meu amigo José Maria Rabelo mostrou, com sua vida, que isso é possível. Morreu aos 93 anos deixando-nos esse legado, como um orgulho nosso, do jornalismo mineiro e brasileiro.
O nome de Zé Maria ficará indelével junto de dois títulos de jornais. Primeiro o Binômio, que ele fundou junto com o saudoso companheiro de profissão, de sindicato e de parlamento, o socialista do velho PS, Euro Arantes. O segundo jornal foi o Pasquim. Começou na redação do Informador Comercial, mais tarde DIÁRIO DO COMÉRCIO, onde conviveu com o jornalista José Costa – homem de imprensa e também empresário-político, militante das entidades classistas de Minas, entusiasta do desenvolvimento do nosso Estado.
Seu nome, Zé Maria, está ligado a jornais, mas a verdadeira referência dele foi a “luta”. O jornalista e político de “luta”!
Na década de 50, filho de um fiscal udenista sofredor e brigadeirista, eu via meu pai ler o Binômio (1952-1964), semanalmente e inteirinho, em Nova Era, no Vale do Rio Doce/Médio Piracicaba. Ele ria todo o tempo da leitura. JK governava com o binômio Energia e Transporte e se prestava, com seus romances, serestas e bailes, como bom diamantinense, à ironia, sarcasmo e humor das penas de Euro, Zé Maria e outros colegas repórteres e redatores.
Em 1961, Zé Maria foi obrigado a fugir de Belo Horizonte, camuflado, vestido de padre. Como era muito alto, dizem as más línguas que só a batina do amigo padre Lage, socialista como os dirigentes do Binômio, e com boa estatura como Zé Maria, lhe serviu. Refugiou-se em Poços de Caldas e depois em São Paulo.
Zé Maria conheceu, com a esposa e os sete filhos, o exílio político após 64. A dita Revolução, com um coronel, invadiu a redação do Binômio, na avenida Paraná, e jogou máquinas e linotipos pela janela. A família viveu no Chile e depois na França, ele como livreiro e abrindo livrarias. Outro aspecto destacável foi sua vivência familiar invejável. Seu filho Hélio, repórter fotográfico, é testemunha.
Zé Maria, junto com Brizola, Darcy Ribeiro e outros, fundou o PDT, após a anistia, visando prolongar a força do velho PTB de Vargas. Além das marcas que deixa no jornalismo e na política, foi um intelectual ousado e escritor fecundo, além de poeta.
Vi pela TV o velório do amigo, impedido de ir ao nosso Sindicato dos Jornalistas. Somos plenamente solidários com a saudação, as palavras e homenagens de Alessandra Melo, nossa presidente junto do caixão.
Nos anos 80 esse escriba liderou os jornalistas mineiros. Pude receber na Casa dos Jornalistas muitas vezes e confidenciar com o colega de profissão que voltava do exílio, sobre sua caminhada de luta.
Com ele aprendi que a vocação para a notícia não impede o chamado para a luta política. Aliás, com ele e Euro Arantes, redator do Diário de Minas e colega de diretoria do Sindicato. Ambos nos ensinaram que não existe contradição entre as artes do jornalismo e da política. Engana-se quem prega contradição entre ambas. O segredo é que jornalismo e política só deveriam existir como luta libertadora. Se chega ou não à luta partidária, são outros 500!