Quem está pensando em aproveitar as férias para descansar em regiões rurais deve estar atento a alguns cuidados para evitar o contato com carrapatos, que podem causar uma doença grave: a febre maculosa. A morte de um casal pela doença, após viagem ao interior de São Paulo e de Minas Gerais, acende a luz de alerta para o risco de contaminação.

Minas Gerais registrou, só neste ano, nove casos de febre maculosa e, desses, dois resultaram em morte, conforme dados da Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG). O índice de letalidade, em 22%, mostra o quanto a doença pode ser potencialmente fatal, e demanda atenção da população e do poder público.

MG é um estado endêmico para a febre maculosa. Isto significa que a doença é comum no estado e pode ocorrer durante todo o ano. Nos períodos mais secos, entre os meses de abril a outubro, os casos da doença tendem a aumentar, conforme a própria SES. “Sobe por volta de maio, com ápice agora (junho), na transição de estações secas para chuvosas”, aponta o professor especialista em doenças parasitárias Marcelo Bahia. Por isso, as viagens de férias exigem mais atenção, já que as pessoas passam a ter mais contato com áreas onde o parasita pode ser encontrado.

Esse inseto não é o carrapato comum, encontrado geralmente em cachorros. A espécie Amblyomma cajennense costuma ter como hospedeiros cavalos, bois e, especialmente, capivaras. A febre maculosa é transmitida pela picada do carrapato e é causada pela bactéria do gênero Rickettsia. A doença não passa diretamente entre pessoas pelo contato.

Curi alerta que, apesar de ser mais comum em regiões rurais, a doença também está muito presente em áreas urbanas, como é o caso de Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. “Na região do Córrego do Ressaca, tivemos vários surtos a cada dois anos ou menos. A população tem que ficar alerta, e as equipes de saúde mais ainda. Deve ser feito o monitoramento das regiões, capina dos locais e desinfectação dos focos”, aponta.

Ele cita o caso de uma família do município, em que 21 pessoas foram internadas e outras duas morreram, em 2019, após fazerem um mutirão para capinar um lote, no Bairro Nacional, na divisa de Contagem com Belo Horizonte. Em 2021, outras duas pessoas morreram em decorrência da febre maculosa na mesma região. Hoje, o bairro, com um total de 288 imóveis, é mapeado e monitorado pela Secretaria Municipal de Saúde.

Segundo o superintendente de Vigilância em Saúde de Contagem, José Renato de Rezende Costa, após os surtos da doença, o município se tornou referência no controle e combate à febre maculosa. “Fruto do que vivemos em 2021 e 2019. Tivemos uma casuística importante nesse período. Com essa experiência, infelizmente ruim, idealizamos uma proposta que, hoje, veio a ser norte para prevenção da febre maculosa inclusive no Ministério da Saúde”, afirma. Neste ano, Contagem não registrou nenhum caso ou morte pela doença. Quatro casos suspeitos ainda seguem em investigação. Na série histórica de 2018 até 2023 foram confirmadas seis mortes, quatro em 2019 e duas em 2021.

O município, segundo Costa, mantém vigilância constante do carrapato em todo o território. As ações também incluem classificação das áreas de risco, medidas de educação em saúde e integração com as outras secretarias e municípios para atuações conjuntas. “Temos mapeado essas áreas que historicamente tiveram algum caso de febre maculosa”, aponta. Os locais também receberam placas indicativas da presença de carrapatos e referências de cuidados que devem ser adotados por quem visita essas áreas. “A partir do mês de abril, até final do mês de agosto e início de setembro, quando se iniciam as chuvas, passamos a fazer banho carrapaticida de 15 em 15 dias nos animais, já que esse período seco é de maior incidência do carrapato”, lista o superintendente de Contagem.

Parques e áreas de mata próximas a córregos, rios e lagos podem ser pontos de risco. “A prevenção é o melhor caminho. O que é interessante para quem vai a áreas de mata, acampa, faz trekking ou até mesmo vai capinar um lote é se proteger, sempre. Então, calça, roupas de manga comprida, evitar a exposição da pele”, sugere o infectologista. Ele também recomenda que, depois de atividades no mato ou com animais do campo, a pessoa confira se não saiu do local com algum carrapato na roupa ou no corpo. “Lembrando que ele tem que ficar várias e várias horas se alimentando daquele sangue para transmitir a bactéria. Então, no caso daquele carrapato que chegou, andou e picou é pouco tempo, não tem transmissão”, afirma.

A primeira morte pela doença em Minas Gerais este ano foi registrada em Manhuaçu, na Zona da Mata mineira. O óbito aconteceu em abril, mas a causa da morte só foi confirmada no início de junho. Conforme a Secretaria Municipal de Saúde, o paciente, de 54 anos, tinha comorbidades, como diabetes, hipertensão e cardiopatia. Ele morava no Bairro Nossa Senhora Aparecida, mas relatou ter tido contato com áreas com presença de carrapatos, como o Bairro Ponte da Aldeia e Bom Pastor, ambas próximas a um rio. Quarenta e nove casos de febre maculosa, com seis mortes, já foram confirmados no Brasil neste ano. A Região Sudeste é a que concentra a maioria das contaminações, com 25.

Fonte: TV Minas

 

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