Um novo estudo mostra que a Covid-19 pode deixar sequelas no sistema cardiovascular, aumentando o risco de o paciente sofrer infarto, acidente vascular cerebral (AVC) e desenvolver insuficiência cardíaca, mesmo depois de se recuperar da infecção. Isso ocorre porque o vírus impulsiona a rigidez arterial, sobretudo em mulheres.
A pesquisa foi realizada pelo consórcio Cartesian, um conjunto de 34 instituições de pesquisa mundiais. O objetivo era identificar como a Covid-19 poderia impactar a rigidez arterial, um indicador de envelhecimento dos sistemas que “alimentam” o coração. Os resultados foram publicados em agosto, na revista European Heart Journal.
Este é o maior estudo populacional com sobreviventes da Covid-19, com dados de mais de 2 mil participantes de 16 países, incluindo o Brasil.
Acompanhar mudanças nas características das artérias, como a rigidez delas, é essencial, pois esse é um aspecto que representa um risco maior de problemas no coração e em outros órgãos, como insuficiência cardíaca, infarto e acidente vascular cerebral (AVC).
“O estudo mostrou que pessoas que tiveram Covid-19 apresentam maior rigidez das grandes artérias, o que pode indicar envelhecimento vascular e comprometer o fluxo de sangue para o cérebro e outros órgãos”, revela Emmanuel Ciolac, professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp), uma das instituições que participaram do consórcio, em comunicado.
De acordo com Ciolac, a rigidez arterial aconteceu independentemente da gravidade da doença ou a preexistência de outras condições, como hipertensão.
Por outro lado, os resultados também mostraram que as artérias tendem a ficar menos rígidas com o passar do tempo. Para o pesquisador, isso mostra a importância dos programas de reabilitação física.
“São situações que, na maioria dos casos, podem ser reversíveis e, cada vez mais, vemos que é preciso uma atenção de longo prazo nos infectados pela Covid-19”, diz o pesquisador.
Exame revela mudança nas artérias
Durante o estudo, foi medida a velocidade da onda de pulso carótida-femoral dos participantes. O teste não invasivo consegue avaliar, de forma eficiente, a rigidez das grandes artérias. Entre as 2.390 pessoas, estavam não infectados e infectados, incluindo casos leves e até os que precisaram de internação. No grupo, também havia vacinados e não vacinados.
O exame que media a velocidade com que a onda de pulso percorria a artéria carótida e a femoral determinava para os pesquisadores o estado arterial.
“Quanto mais lenta, mais elástica e saudável a artéria está. Quanto mais rápida a velocidade, mais enrijecida e, por consequência, menos eficiente é a distribuição do sangue para os órgãos e tecidos”, explica a pesquisadora Bianca Fernandes, que também esteve envolvida no estudo.
A rigidez arterial é um processo comum no envelhecimento, porém, o que mais preocupou a equipe foi o fato de a Covid acelerá-lo apenas seis meses após a infecção em comparação aos que não tiveram a doença.
“Houve um envelhecimento acelerado das artérias entre todos os participantes infectados”, afirma Bianca.
Mulheres são mais prejudicadas
A investigação também detectou que as mulheres foram as mais afetadas com a complicação, principalmente as com sintomas persistentes da Covid-19. As com quadros mais graves, especialmente as que precisaram passar por unidade de terapia intensiva (UTI), tiveram um envelhecimento arterial ainda mais acentuado.
Entre os homens, não houve tanta distinção entre quem teve ou não a infecção, porém, os especialistas sugerem que isso não representa que o público tem mais resistência ou saúde.
“Pode estar ligado ao fato de que os homens tiveram maior mortalidade, o que pode ter influenciado os resultados”, afirma Bianca.
As pessoas vacinadas tiveram menos mudanças na rigidez arterial do que as não vacinadas, ressaltando a importância da imunização.
“O estudo reforça a importância de acompanhar a saúde cardiovascular de quem teve Covid-19, mesmo após a recuperação da doença. É preciso também investigar estratégias específicas para reduzir esse envelhecimento vascular precoce. Porque, embora já se saiba que hábitos saudáveis ajudam a preservar a elasticidade das artérias, ainda é necessário investigar protocolos direcionados para os efeitos da Covid-19 sobre o sistema vascular”, finaliza a pesquisadora.
Com informações do Metrópoles