O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, afirmou nesta quinta-feira (10) reconhecer que o cartão de crédito é um “grande problema” e que causou uma inadimplência em grande volume. De acordo com ele, o item passou a ser oferecido como uma forma de fidelizar cliente. O acesso ao crédito, no entanto, não necessariamente foi acompanhado de um aumento da renda. Atualmente, o cartão de crédito representa 40% do consumo no Brasil.
“A gente tem um mercado que tem características muito diferentes no Brasil. A gente tem um parcelado sem juros, que ajuda muito o comércio, que ajuda muito a atividade, mas que tem aumentado muito o número de parcelas, de três para cinco, para sete, para nove, para 11. Hoje, o prazo médio são 13 parcelas. Então, é como se fizessem um financiamento de longo prazo sem juros. A pessoa que toma a decisão de dar os juros não é a mesma que paga pelo risco, isso gera uma assimetria”, disse.
“Nós saímos de cento e poucos milhões de cartões de crédito para 215 milhões de cartões de crédito em um período de dois anos e meio, isso é uma alta bastante grande. Com exceção de países como a China, não sei de nenhum outro país que teve um aumento tão grande. O resultante disso foi uma inadimplência no rotativo de 52%. Não tem nenhuma inadimplência, nem parecida, em nenhum outro lugar do mundo, que eu tenha olhado, no cartão de crédito. E é uma taxa que hoje está em 454%, último dado que eu tenho”, acrescentou.
Como já sinalizado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, Campos Neto reforçou que há um estudo para conter o problema que deve ser entregue em 90 dias. O encaminhamento seria acabar com a possibilidade de rotativo, um tipo de crédito oferecido ao consumidor quando ele não faz o pagamento total da fatura do cartão até o vencimento.
“A gente tem 90 dias para apresentar uma solução. E a solução está se encaminhado para que não tenha mais rotativo, que o crédito vá direto para o parcelamento [da fatura], que seja uma taxa ao redor de 9%. Ou seja, extingue-se o rotativo, quem não paga o cartão vai direto para o parcelamento ao redor de 9%, e que a gente crie algum tipo de tarifa para desincentivar esse parcelamento sem juros tão longo”, explicou.
“Não é proibir o parcelamento sem juros, é simplesmente tentar fazer com que eles fiquem um pouco mais disciplinados, numa forma bem faseada, para não afetar o consumo”, frisou, ponderando que uma solução deveria ter sido feita há mais tempo.
Uma alternativa, na avaliação de Campos Neto, seria limitar os juros do cartão. Esta, porém, poderia acarretar a retirada de cartões de circulação pelos bancos.
“Para as pessoas que têm mais risco os bancos não ofereceriam aquele cartão, devido a uma relação de risco e retorno ineficiente. O problema de cortar o número de cartões é que se sabe como começa, mas não se sabe como termina. Então, isso pode gerar um efeito muito grande na parte de consumo, na parte de varejo. A gente está estudando uma solução, deve ter alguma coisa nas próximas semanas. Nós temos um prazo de 90 dias para fazer isso, o que vai ser feito”, completou.
Campos Neto compareceu ao Senado para apresentar um relatório de inflação e de estabilidade financeira, explicando as decisões tomadas no semestre anterior. A lei que define a autonomia do BC define a ida do atual presidente da instituição a cada seis meses, em audiência pública, no plenário do Senado.
Fonte: O Tempo