Conforme esperado por parte do mercado financeiro, o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) decidiu de forma unânime, nesta quarta-feira (18), subir a taxa básica de juros para 15% – a mais elevada desde junho de 2006, quando o comitê a definiu em 15,25%. A expectativa é que a Selic se mantenha neste patamar até o fim do ano.

No comunicado da última reunião, em maio, o Copom destacou que mais indicadores demonstravam uma desaceleração da economia, o que poderia levar ao fim do ciclo de alta dos juros. Mesmo assim, o grupo achou melhor continuar elevando a Selic para conter a inflação, subindo a taxa em 0,25 p.p.

Após chegar a 10,5% ao ano em maio de 2024, a taxa começou a ser elevada em setembro do ano passado, com uma alta de 0,25 ponto, uma de 0,5 ponto, três de 1 ponto percentual e uma de 0,5 ponto. A intenção do Copom é desacelerar a economia e frear a inflação, afetada especialmente pela alta dos preços dos alimentos.

De acordo com a nota do Copom, “o conjunto dos indicadores de atividade econômica e do mercado de trabalho ainda tem apresentado algum dinamismo, mas observa-se certa moderação no crescimento. Nas divulgações mais recentes, a inflação cheia e as medidas subjacentes mantiveram-se acima da meta para a inflação”.

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) do mês de maio apresentou variação de 0,26%, 0,17 ponto percentual abaixo da taxa de 0,43% registrada em abril. A inflação acumulada em 12 meses é de 5,32%, valor bem acima da margem de tolerância da meta estabelecida pelo Banco Central – 4,5%, ou seja, uma margem de 1,5% acima da meta de 3%.

O comitê indica ainda que o ciclo de altas deve ser encerrado agora e a Selic não deve ultrapassar os 15% num futuro próximo. “Em se confirmando o cenário esperado, o Comitê antecipa uma interrupção no ciclo de alta de juros para examinar os impactos acumulados do ajuste já realizado, ainda por serem observados, e então avaliar se o nível corrente da taxa de juros, considerando a sua manutenção por período bastante prolongado, é suficiente para assegurar a convergência da inflação à meta”, justifica o Copom.

Também nesta quarta-feira, o Federal Reserve (Fed, banco central americano) manteve inalteradas suas taxas de juros pela quarta reunião consecutiva de sua comissão de política monetária. A entidade rebaixou seus prognósticos para a economia e a inflação dos Estados Unidos.

Decisão desagrada setor produtivo

Para a Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL/BH), o novo aumento demonstra que a política adotada pela autoridade monetária, ainda que tenha como objetivo o controle da inflação, tem sido um entrave à retomada do crescimento, em especial para os pequenos e médios negócios, que são mais sensíveis ao custo do crédito.

“A elevação da taxa básica de juros ampliará os desafios enfrentados pelo setor produtivo. Embora o controle da inflação seja necessário, juros mais altos restringem o acesso ao crédito, comprometem o consumo das famílias e reduzem a capacidade de investimento das empresas”, avalia o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL/BH), Marcelo de Souza e Silva.

Embora reconheça a importância do controle da inflação para a estabilidade econômica, o presidente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Flávio Roscoe, alerta que a medida pode restringir ainda mais os investimentos produtivos e levar a impactos negativos sobre a geração de empregos e a renda das famílias.

“É fundamental que as decisões de política monetária sejam pautadas pela cautela, levando em conta os efeitos defasados das medidas já adotadas e o elevado nível de restrição imposto pela atual taxa de juros, a fim de evitar impactos desproporcionais sobre a atividade econômica e o mercado de trabalho”, argumenta.

Para o presidente da Associação Comercial e Empresarial de Minas – ACMinas, Cledorvino Belini, “o aumento da Selic para 15% é uma medida extrema que impõe custos elevados ao setor produtivo, ao consumo e ao emprego. Mas revela, sobretudo, a deterioração das expectativas econômicas diante da instabilidade fiscal, da insegurança jurídica e da falta de clareza nas políticas econômicas do país”.

Já o mercado financeiro deve receber bem a decisão do Copom. Marcelo Bolzan, sócio do escritório de investimentos The Hill Capital, explica que o mercado estava dividido, tinha argumentos aqui tanto para manter quanto para subir. “Eu entendo que a subida foi um tom bastante positivo. Eles já deixam aqui um guidance, ou seja, uma sinalização dos próximos passos de uma interrupção do processo de subida de juros. Se tudo continuar como está, eles vão parar de subir juros e fazer uma pausa. Eles não falam aqui de um encerramento de ciclo, mas entendo que de fato é isso sim”.

O que é a taxa Selic?

É a taxa básica de juros do Brasil, definida por um comitê de especialistas do Banco Central. Seja no crédito para fazer um empréstimo ou tomar um financiamento no banco, até o preço de mercadorias importadas e o mercado de trabalho, a taxa Selic exerce importante influência sobre uma série de variáveis no dia a dia de todas as pessoas. É um instrumento para conter o consumo e, consequentemente, a inflação do país.

 

Fonte: Cinthya Oliveira/O Tempo

 

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