Uma análise preliminar da Coordenadoria de Fiscalização de Armas e Explosivos (CFAE) da Polícia Civil do Rio de Janeiro revelou que o armamento apreendido na recente operação no Complexo da Penha, na Vila Cruzeiro, inclui quatro armas oriundas de forças armadas estrangeiras — duas da Venezuela, uma do Peru e uma da Argentina. O levantamento reforça a presença de armamento de guerra em poder do crime organizado e evidencia a complexa rota internacional percorrida até chegar ao território fluminense.

Fabricadas originalmente para uso em conflitos militares, armas longas como fuzis, carabinas e metralhadoras se tornaram instrumentos centrais na disputa territorial entre facções criminosas no Rio de Janeiro. Altamente letais, esses equipamentos passaram a representar símbolos de poder e são exibidos sem restrição em comunidades dominadas por grupos armados.

Em entrevista, o delegado Vinícius Domingos, coordenador da CFAE, detalhou o caminho percorrido pelo material bélico até o estado. Segundo ele, a atuação da coordenadoria é focada em desvendar a origem das armas para subsidiar investigações e responsabilizar os traficantes que abastecem o mercado ilegal.

Foto: Metrópoles

“A gente busca fazer um relatório que desvende o máximo de informações possíveis sobre a origem das armas, tanto objetivas quanto subjetivas, para subsidiar não apenas as unidades responsáveis pelas investigações, mas também para identificar e punir as pessoas que as traficam até o RJ”, afirmou.

De acordo com dados da CFAE, 725 fuzis foram apreendidos no estado em 2024, dos quais apenas 22 foram fabricados no Brasil. A maioria das armas estrangeiras — cerca de 80% — tem origem nos Estados Unidos, enquanto os 20% restantes vêm de países como Alemanha, Bélgica, Suíça, Geórgia, Turquia e Romênia.

Foto: Metrópoles

Grande parte do material chega ao país desmontado ou em versões conhecidas como “copyfakes” — cópias falsificadas ou artesanais que, apesar de menor durabilidade, mantêm alto poder letal.

“Elas têm aptidão de tiro, mas não possuem boa qualidade. Por isso, não chegam a durar duas décadas. Ainda assim, funcionam tempo suficiente para serem empregadas pelo crime organizado”, explicou Domingos.

Segundo o delegado, essa estratégia visa driblar a fiscalização, uma vez que importar peças de armas — muitas vezes vendidas sem restrição — é mais simples do que trazer o equipamento completo. No Brasil, os criminosos finalizam as copyfakes com canos e componentes de airsoft, tornando-as visualmente idênticas às armas originais.

As principais rotas de entrada do armamento passam pela fronteira com o Paraguai e pela região amazônica, nas divisas com Peru, Colômbia e Venezuela. Parte desse arsenal, segundo a CFAE, é desviada das forças armadas regulares desses países.

“Inclusive, uma grande parte deles é desviada das forças regulares do Exército desses países”, destacou o delegado.

Para conter o avanço do tráfico de armas, Domingos defende a necessidade de modernizar a legislação brasileira. Embora reconheça as dificuldades no controle das fronteiras, o delegado acredita que o endurecimento das leis e o cumprimento efetivo das penas podem reduzir o interesse dos criminosos nesse tipo de atividade.

Vídeo: @delegado_vinícius_domingos

“A gente entende, na Cfae, que a fronteira é realmente um problema, mas não o maior, porque é de difícil solução. É preciso atualizar a legislação para que os condenados cumpram pena suficiente e sirvam de exemplo do que não é permitido no país”, concluiu.

Com informações do Metrópoles

 

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